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Lixo flutuante no Tietê vira bom negócio

Juntando garrafas plásticas num barco, catador ganha R$ 500 por mês. Empresários ampliam a coleta

Por Agencia Estado
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Quem vê o engenheiro Omir Inglês de Souza, de 30 anos, coletando de barco o lixo que flutua no Rio Tietê, em Anhembi (a 260 km de São Paulo), pensa logo num daqueles ecochatos. Souza se considera um ambientalista, mas está ali por dinheiro. Ele transformou o que seria um exercício de conscientização ecológica em negócio promissor. O lixo coletado, sobretudo na forma mais abundante - garrafas plásticas - é processado e vendido para reciclagem. Iniciada há dois meses, a atividade já emprega dez pessoas. Com uma cooperativa, em fase de criação, pelo menos cem moradores da região estarão tirando seu sustento desse novo negócio. Matéria-prima não falta: segundo o engenheiro, várias toneladas de lixo reciclável chegam todo dia com as águas do Tietê e se acumulam na entrada do lago formado pela represa de Barra Bonita, em Anhembi. Há outras centenas de toneladas de material nos aguapés e ilhas de vegetação. Ambiente e economia Formado em Engenharia Ambiental e dono de uma fazenda em Minas Gerais, Souza diz que esse lixo não era mais do que uma agressão ao ambiente, pela falta de conscientização ecológica. Foi seu atual sócio, Paulo Roberto Barros de Andrade, 51 anos, dono de depósito de reciclagem em Piracicaba, que apontou o lado econômico da poluição. "O plástico descartado, sobretudo o PET, é matéria-prima para vassouras, tecidos, fios." O material que é disputado por catadores e sucateiros nas cidades está no rio à disposição de quem chegar primeiro. O material limpo e prensado alcança R$ 0,60 o quilo. Souza e Andrade criaram a Anhembi Recicláveis, alugaram um galpão, compraram uma prensa e fizeram parceria com os coletores - que recebem R$ 0,20 por quilo de plástico bruto, mais barcos e sacolões. A coleta garante a renda do ex-catador de papelão Paulo César Augusto, 37 anos, que há 15 recolhia sucata em Piracicaba. Mergulhado até o pescoço nas águas do rio, vai jogando no barco garrafas, galões, uma infinidade de embalagens. Trabalhando cinco dias por semana, obtém R$ 500 por mês - mais que o dobro do que tirava nas ruas. "É um serviço mais limpo", diz. Ali as águas do Tietê são limpas. Juntando dinheiro O sucateiro Fábio Silveira Bueno, 21 anos, reclama só das lesmas que grudam na perna. "Mas o serviço rende." Em menos de uma hora, encheram dois sacolões. Bueno nunca teve emprego com registro em carteira. Agora junta dinheiro para comprar uma moto e será sócio da futura cooperativa. Na semana passada, Souza e Andrade alugaram um galpão maior e buscam parceiros para ampliar a coleta - entre eles, 400 pescadores profissionais da cidade. O plano é colocar um sacolão em cada barco que sai para a pesca. Os fazendeiros da região emprestam barcos. Nas áreas ribeirinhas das fazendas, o lixo deixado pelas águas representa risco de intoxicação para o gado e danifica as pastagens. Milton Quadros Rodrigues, dono do camping Anhembi, à beira do rio, também cede barcos. A sujeira do Tietê afugentava a clientela. Os sócios dizem que fazem um ambientalismo de resultados. "Ajudamos o meio ambiente e criamos emprego, mas nosso principal objetivo é o de todo empresário: ganhar dinheiro", resume Andrade.

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