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Lua de Júpiter poderia ter sinais de vida a apenas 1 centímetro da superfície, segundo estudo

Radiação que bombardeia Europa constantemente não penetra profundamente em sua crosta de gelo,de acordo com pesquisa feita por cientistas da Nasa; descoberta faz dessa lua o local mais promissor para a busca de vestígios de vida alienígena

Por Fabio de Castro
Atualização:

Vestígios de vida alienígena podem estar escondidos sob a superfície de Europa - uma das luas de Júpiter - a apenas um centímetro de profundidade. A conclusão é de um novo estudo conduzido por cientistas da Nasa e publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature Astronomy.

Há muitos anos os cientistas acreditam que Europa, por conta do vasto oceano de água líquida sob sua crosta congelada, é o local mais promissor para a descoberta de vida extraterrestre no Sistema Solar. Mas, na prática, a busca por esses vestígios de vida parecia inviável, porque Europa recebe constantemente um violento bombardeio de radiação que destruiria todas as amostras orgânicas que não estivessem nas profundezas. Para encontrar esses sinais de vida, seria preciso enviar uma nave capaz de realizar escavações profundas na impenetrável superfície congelada de Europa.

Detalhes da superfície congelada de Europa, em imagem feita a partir das fotos da nave Galileo, da Nasa, obtidas no fim dos anos 1990. Foto: NASA/JPL-Caltech/SETI Institute

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No novo estudo, porém, os cientistas fizeram um mapeamento completo da radiação que bombardeia Europa e concluíram que, nas altas latitudes da lua, ela penetra no máximo um centímetro. Segundo os autores do estudo, a descoberta é fundamental para determinar o local onde valeria à pena, no futuro, enviar um veículo de pouso para buscar amostras orgânicas preservadas na lua joviana.

"Esses resultados indicam que futuras missões à superfície de Europa não precisarão escavar materiais em grandes profundidades para investigar a composição do material do subsolo para buscar por potenciais assinaturas biológicas", disse o autor principal do estudo, Tom Nordheim, do Laboratório de Propulsão de Foguetes da Nasa.

Segundo Nordheim, para compreender como as moléculas que podem ser encontradas na superfície de Europa se relacionam com seus oceanos subterrâneos, é fundamental mapear os efeitos da radiação que bombardeia a lua.

"Quando examinamos materiais que vieram do subsolo de Europa, o que estamos vendo? Precisávamos saber se essas análises nos dizem o que está no interior do oceano, ou se ela está nos revelando materiais que foram modificados pela radiação", afirmou.

O modelo desenvolvido pelos cientistas da Nasa foi capaz de simular os efeitos das partículas energéticas que caem sobre Europa e comparar essas estimativas com os dados de laboratório que indicam a rapidez com que essa radiação destrói os aminoácidos - os blocos fundamentais da vida.

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De acordo com o artigo, os aminoácidos poderiam persistir por mais de 10 milhões de anos sob uma profundidade de um a três centímetros, nas latitudes mais altas de Europa, e em profundidades de 10 a 20 centímetro nas latitudes mais baixas, onde a radiação é mais forte.

Segundo Nordheim, graças à descoberta, os engenheiros responsáveis por uma futura missão da Nasa a Europa saberão exatamente onde pousar para aumentar as chances de encontrar traços de vida alienígena.

Em comentário sobre o artigo publicado na mesma edição da Nature Astronomy, John Cooper, cientista do Centro Goddard de Voo Espacial, da Nasa, explica que as futuras missões poderão encontrar vestígios de vida em Europa, mas dificilmente localizarão organismos vivos. Segundo ele, embora a radiação não penetre profundamente na superfície, nenhum tipo de vida seria capaz de sobreviver aos seus níveis atuais.

"O melhor que podemos esperar seria a descoberta de fragmentos bioquímicos de vida que existiu no passado, misturados com o gelo da superfície. Pelo menos nos poucos centímetros que seriam acessíveis para o módulo de pouso em Europa", escreveu Cooper.

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Ainda assim, segundo ele, os resultados do estudo são animadores, porque foram identificados fluxos mais baixos de radiação de elétrons e prótons nas latitudes médias e altas de Europa. "É nessas regiões menos irradiadas que nós podemos ter a maior esperança de encontrar assinaturas reconhecíveis da existência de vida ancestral", disse Cooper.

A Nasa tem planos para enviar missões a Europa. Uma delas, a missão Clipper, programada para lançamento em 2022, entrará na órbita de Júpiter e fará 45 sobrevoos próximos de Europa, com altitudes variando de 2,7 mil quilômetros a 25 quilômetros.

A espaçonave Clipper levará câmeras, espectrômetros e instrumentos de radar e plasma, para investigar a superfície da lua, seu oceano e o material que é ejetado para a superfície. Um dos objetivos da missão será examinar as possíveis rotas orbitais e explorar as melhores regiões para uma futura missão de pouso. 

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