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Madeireiros tiram mogno e não pagam índios

Os madeireiros devem mais de R$ 30 mil aos índios. O cacique admite não ser correto os índios permitirem a retirada da madeira, mas argumenta que infelizmente este é um meio de sobrevivência da tribo

Por Agencia Estado
Atualização:

Os índios caiapós da aldeia Moicaracô estão em pé de guerra contra madeireiros dos municípios de São Félix do Xingu, Redenção e Tucumã, no sul do Pará. Os madeireiros são acusados de retirar ilegalmente 10 mil metros cúbicos de mogno das reservas indígenas sem pagar aos índios qualquer centavo, desde agosto do ano passado. Cerca de 40 caiapós, quatro deles caciques, prometem matar os empregados das madeireiras que entrarem na reserva de 600 mil hectares para cortar mais árvores. Os madeireiros devem mais de R$ 30 mil aos índios. O cacique Kaikware admite não ser correto os índios permitirem a retirada de madeira de suas terras, mas argumenta que infelizmente este é um meio de sobrevivência econômica da tribo. "Estamos passando necessidades e não temos dinheiro para nada. A Funai não faz nada pela gente e a Funasa, que deveria cuidar da nossa saúde, só aparece nas aldeias quando tem indio morrendo", diz o cacique. Em Redenção, ele pretende cobrar o que os madeireiros devem à tribo. "Até que eles vinham pagando, mas depois não pagaram e nem deram satisfações". Se os caiapós reclamam pagamento, os índios paracanãs da reserva Apitereua parecem não ter do que se queixar. Não só estão recebendo em dia como ainda ganharam um serviço extra: escoltar, para os madeireiros, o mogno extraído de suas terras em São Félix do Xingu. De acordo com um dos coordenadores do movimento ambientalista Greenpeace, Marcelo Marquesini, pelo menos 30 índios armados de espingardas e rifles fornecidos pelos madeireiros estariam garantindo o transporte da madeira ilegal até a cidade de São Félix do Xingu. Lá, o mogno será serrado e depois levado para Belém, de onde será embarcado de navio para a Europa e Estados Unidos. O procurador da República em Belém, Felício Pontes Júnior, denunciou no ano passado que os madeireiros do sul do Pará estariam aliciando com drogas e armas jovens índios da tribo Paracanã, para extração ilegal de madeira dentro das reservas indígenas Apiteuera e Xingu. Para conquistar a simpatia dos índios são oferecidos dinheiro, comida, camisas, redes, bebidas alcoólicas, maconha e até armas pesadas. Jovens paracanãs com idades entre 15 e 18 anos são os mais vulneráveis ao aliciamento feito pelos madeireiros. A mesma estratégia estaria sendo utilizada nas áreas indígenas Trincheira Bacajá, Caiapó Xicrin do Bacajá e Caiapó Cararaô, todas em Altamira, no sudoeste paraense.

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