Maior desafio será enfrentar realidade da Bahia, diz arcebispo de Salvador

D. Murilo Krieger foi nomeado primaz do Brasil pelo Vaticano e substituirá d. Geraldo Majella

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - O novo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, d. Murilo Sebastião Ramos Krieger,de 67 anos, cuja nomeação foi anunciada na última terça-feira pelo Vaticano, disse que o primeiro desafio que terá pela frente será enfrentar a realidade da Bahia, porque sempre trabalhou em São Paulo, Santa Catarina e no Paraná. Por isso, não leva um projeto pronto, mas a disposição de ouvir e aprender muito, para só depois dar uma orientação à ação pastoral na arquidiocese.

 

PUBLICIDADE

"Minha preocupação é mergulhar naquela realidade, tendo a meu lado pessoas experientes, a começar por d. Geraldo Majella Agnelo (cardeal-arcebispo a quem vai suceder), que tem 11 anos de experiência em Salvador e vai continuar morando na cidade", anunciou d. Murilo.

 

Catarinense nascido em Brusque, ele era até agora arcebispo de Florianópolis. Anteriormente, foi bispo auxiliar dessa arquidiocese, bispo de Ponta Grossa e arcebispo de Maringá. "Achava que fosse ficar por aqui, na minha terra, mas fui surpreendido pela nomeação - não foi uma consulta - que recebo como um serviço à Igreja", revelou d. Murilo.

 

Ao lado do arcebispo de Maringá, d. Anuar Battisti, seu nome estava entre os mais cotados para o cargo, conforme publicou o Estado na última terça.

 

O novo primaz - título dado ao arcebispo de Salvador pelo fato de ter sido essa a primeira diocese criada no Brasil (em 25 de fevereiro de 1551) - afirmou que vai para a Bahia disposto a ter uma boa convivência com a religião afro-brasileira, o candomblé. "As várias religiões têm em comum determinados valores, como a solidariedade, a justiça, o trabalho pela paz e a luta pelos menos favorecidos, de modo que, no que for possível, vamos trabalhar juntos", acrescentou.

 

D. Murilo acredita que, para ter um bom diálogo com os cultos afro-brasileiros, não será necessário ir conhecer um terreiro de candomblé. "Uma presença física poderia não ser edificante para o povo e poderia levar a interpretações equivocadas", disse o arcebispo. O mais importante, segundo ele, é o respeito à diversidade, "é aprender a lidar com pessoas diferentes, a partir de suas crenças e seus valores, o que vale também para outros níveis, como a política".

 

Ex-aluno do cardeal d. Eusébio Oscar Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, com quem conviveu 14 anos em Taubaté, d. Murilo admite que ele possa ter sido consultado sobre sua nomeação para Salvador, mas não tem certeza. "Não sei se (o núncio e a Santa Sé) consultam os cardeais que já deixaram o governo de suas arquidioceses", observou.

Publicidade

 

Os dois são membros da Congregação do Coração de Jesus. Como arcebispo de Salvador, o novo primaz deverá receber em breve o título de cardeal. Sua posse está marcada para 25 de março.

 

D. Geraldo Majella Agnelo, de 77 anos, revelou ao Estado que seu projeto pessoal é, depois de colocar as coisas em dia nos próximos meses, trabalhar como missionário em Guiné-Bissau, na África, para realizar um sonho que tinha desde os tempos de seminarista.

 

Ao renunciar à administração da Arquidiocese de Salvador por limite de idade (75 anos, de acordo como o Código de Direito Canônico), o arcebispo passa a ser emérito ou aposentado, mas não perde o título e os privilégios de cardeal. Até completar 80 anos, poderá votar num eventual conclave para a eleição do papa.

 

Mineiro de Juiz de Fora, d. Geraldo fez os cursos de Filosofia e de Teologia no Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo, e doutorado em Teologia, com especialização em Liturgia, no Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma. Trabalhou com d. Paulo Evaristo Arns, em São Paulo nos anos 1960 e 1970. Em seguida, foi bispo de Toledo e arcebispo de Londrina, no Paraná, entre 1978 e 1991, quando foi nomeado secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, no Vaticano. Foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de 2003 a 2007.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.