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Médico consulta ministro do Supremo Tribunal e acelera aborto de anencéfalo

Marco Aurélio Mello disse que, apesar de decisão não ter sido publicada, o aborto não é crime

Por Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo
Atualização:

A pernambucana F., de 30 anos, grávida de 4 meses de um feto anencéfalo, foi internada na manhã desta segunda-feira em uma maternidade de Recife para realizar um aborto. A internação ocorreu após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello responder ao e-mail de um médico, esclarecendo que a decisão da "expressiva maioria" era a de que a interrupção da gravidez nesse caso não é crime e o hospital poderia realizar o procedimento.Em 13 de abril, o hospital se recusou a realizar o aborto na paciente sob a justificativa de que a decisão do STF sobre o tema - que saiu no dia 12, depois de dois dias de julgamento e oito anos de discussões - ainda não havia sido publicada no Diário Oficial da União e, portanto, não estaria em vigor.Diante disso, F. ficou sem alternativa e teve de recorrer à Justiça para pedir autorização para fazer o aborto legalmente, conforme revelou o Estado na semana passada.O caso chegou na sexta-feira à 3.ª Vara do Tribunal do Júri da Capital e nesta segunda-feira de manhã ao juiz Pedro Odilon de Alencar deferiu o pedido da gestante, autorizando a realização do aborto.Resposta. Segundo o médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho, que acompanha a gestante, o ministro Marco Aurélio soube do caso de F. por meio de um e-mail do médico Thomaz Gollop, que citava o caso da paciente e perguntava sobre a validade da decisão do Supremo antes da publicação no Diário Oficial.O ministro respondeu rapidamente e o e-mail foi encaminhado para Moraes. O departamento jurídico do hospital e representantes da OAB de Pernambuco avaliaram a resposta e entenderam que o hospital não cometeria irregularidade em internar a paciente para fazer o aborto antes de o juiz se manifestar."Pela resposta do e-mail, o jurídico entendeu que o Supremo julgou uma ação e que a decisão é de notório conhecimento público, se tornou vinculante e, por isso, o hospital não teria motivos para prorrogar o sofrimento dessa mãe", afirmou o médico.Moraes disse que assim que chegou a resposta do ministro, ainda no domingo à noite, ele ligou para a paciente com a notícia. "Avisei que o hospital faria o procedimento e ela poderia ser internada nesta terça-feira", afirmou.F. deu entrada na manhã desta segunda no hospital - que é referência em casos de aborto legal - e já recebeu a medicação necessária para a realização do abortamento. A mulher poderá ir para casa no dia seguinte ao procedimento.Parte da ata da decisão do STF foi publicada no Diário Oficial na semana passada. A decisão final deverá ser publicada ainda nesta semana.

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