Médicos receitam o que fabricantes mandam, diz estudo

Um terço dos autores que participaram de guias clínicos nos EUA declarou ter ligações financeiras com empresas farmacêuticas

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Por Agencia Estado
Atualização:

A revista britânica Nature divulga em edição desta quinta-feira uma investigação inédita, que mostra uma ligação nem sempre positiva entre pesquisadores e as grandes indústrias farmacêuticas do mundo. Dos 200 protocolos clínicos consultados, feitos em várias partes do mundo e depositados no National Guideline Clearinghouse dos Estados Unidos em 2004, apenas 90 continham detalhes sobre conflitos de interesses individuais. Mas essa mostra foi considerada suficiente para colocar os protocolos de prescrição médica sob suspeita. Um terço dos autores que participaram desses guias clínicos - que costumam influenciar bastante a comunidade médica sobre como proceder em termos de tratamento e diagnóstico dos pacientes - declarou ter ligações financeiras com empresas farmacêuticas. Dos 90 documentos avaliados, apenas 31 estavam livres de qualquer conflito de interesse. Segundo Niteesh Choudhry, especialista em políticas de saúde da Escola Médica de Harvard, essa revelação é ainda mais complexa do que pode parecer. O médico afirma que, nesse caso, como os documentos costumam influenciar muito os clínicos, o efeito dos conflitos detectados pela investigação pode ser muito duradouro e afetar também várias pessoas ao longo de um intervalo de tempo. Dos 90 protocolos esmiuçados com mais detalhes, a equipe da publicação britânica levantou uma lista com 685 autores. Deste total, 445 (65%) admitiram não ter conflitos de interesses. Outros 143 (21%) afirmaram prestar consultoria para companhias farmacêuticas. Além disso, 153 (22%) receberam algum tipo de bolsa para suas pesquisas e 103 (15%) participaram como palestrantes de eventos patrocinados pela iniciativa privada. Uma porcentagem pequena dos clínicos, 16 (2,3%), afirmou ter investido em ações das empresas do setor farmacêutico. Para Choudhry, que já havia levantado o problema em 2002, a comunidade científica ainda precisa discutir o assunto, para que seja encontrado um caminho ideal, que possa levar à superação dos conflitos de interesses.

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