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"Milagre" do DNA completa meio século

A história desse feito começou, na verdade, no outono de 1951, quando o inglês Crick e o americano Watson se conheceram na Universidade de Cambridge, na Inglaterra

Por Agencia Estado
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Uma das maiores descobertas científicas de todos os tempos veio à luz em duas escassas páginas da edição de 25 de abril de 1953 da revista Nature. Nelas, Francis Harry Compton Crick e James Dewey Watson - a ordem dos nomes foi decidida no cara-ou-coroa - anunciaram a descoberta da estrutura da molécula do DNA, realizada por eles dois meses antes, no dia 28 de fevereiro, há exatos 50 anos. O texto de 900 palavras, datilografado pela irmã de Watson, Elizabeth, e acompanhado de um esboço simples da famosa dupla hélice, abriu a era da biologia molecular. Os dois chegaram à estrutura da chamada molécula da vida trabalhando a maior parte do tempo em segredo e sem realizar nenhum experimento em laboratório. O resultado foi muito mais fruto do gênio e da persistência deles. E da ajuda involuntária de Maurice Wilkins e Rosalind Franklin, que trabalhavam com a técnica pela qual as moléculas são cristalizadas e radiografadas, o que permite ver sua estrutura. A história desse feito começou, na verdade, no outono de 1951, quando o inglês Crick e o americano Watson se conheceram na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Na aparência, os dois eram muito diferentes entre si. Crick, o mais velho, nascido em Northampton, em 1916, era elegante e bem articulado. Watson, que em 1928 em Chicago, era descrito por colegas como desajeitado. Suas mentes brilhantes, no entanto, se entenderam de imediato. Um colega de ambos, Max Perutz, citado no livro Decifrando o genoma - a corrida para desvendar o DNA humano, de Kevin Davies, editado pela Companhia das Letras, disse certa vez que "os dois tinham a sublime arrogância dos homens que raramente encontram seus pares intelectuais". Apesar dos mérito da dupla, é inegável que, como em todas as grandes descobertas científicas, eles deviam tributos a seus predecessores. A descoberta que lhes rendeu o Nobel de 1962, juntamente com Wilkins, começou com o monge austríaco Gregor Mendel (1822-1884), cujas pesquisas sobre hereditariedade ficaram esquecidas por 35 anos, até serem redescobertas, em 1900. A partir daí as descobertas sobre o segredo da vida se sucederam. Em 1869, o bioquímico suíço Friedrich Mieschner descobriu várias substâncias no núcleo celular, que classificou como proteínas e moléculas ácidas. Daí surgiu a expressão ácidos nucléicos, que levou a sigla DNA (ácido desoxirribonucléico). Outro avanço significativo ocorreu em 1944, quando o bacteriologista inglês Oswald Averry demonstrou que é mesmo o DNA o responsável pela transmissão dos caracteres hereditários. Seis anos depois, em 1950, o bioquímico austríaco Erwin Chargaff descreveu a composição química dos ácidos nucléicos e determinou as proporções das bases do DNA. Depois de Crick e Watson terem sido proibidos por seus chefes de pesquisar o DNA, pois eram pagos para realizar outras estudos, o trabalho continuou sendo feito por Wilkins e Rosalind. Depois de voltar a ter permissão para pesquisar o DNA, Watson foi ver como estava o trabalho de Wilkins e Rosalind. Na sala do primeiro, viu um raio X que mostrava a forma de dupla hélice da molécula. Mais tarde, comentaria: "No momento em que vi a imagem, fiquei boquiaberto e meu coração disparou." Ele correu para casa e passou a construir moldes da molécula com cartolina e arame, até encontrar o modelo definitivo.

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