Militares brasileiros temiam novas disputas com Argentina

Documento elaborado após a Guerra das Malvinas mostra que Brasil temia reivindicação sobre Itaipu e outras questões fronteiriças

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Por Marcelo Moraes - O Estado de S.Paulo
Atualização:

BRASÍLIA - O documento confidencial do governo brasileiro chamado "Conclusões e Ensinamentos" alerta para a possibilidade de o governo argentino reabrir pendências diplomáticas com o Brasil, mesmo depois do fracasso na Guerra das Malvinas."Devemos estar preparados para, eventualmente, vermos reabertos, sem aparentes motivos, a questão de Itaipu e até antigos litígios de fronteiras considerados há muito tempo superados".O mesmo documento aponta outro problema sério, na avaliação dos militares brasileiros: a falta de equipamentos de guerra e de tecnologia de informações precisas. Os militares reclamam da falta de satélites para usar numa situação semelhante e da falta de armas mais poderosas."Em circunstâncias semelhantes, dispondo apenas de mísseis de defesa de ponto e aeronaves com base em terra, nossas forças navais seriam, certamente, presas fáceis para o inimigo", diz o documento.Os militares entenderam também que a atuação estratégica dos submarinos britânicos no conflito mostrava que o Brasil deveria ampliar sua frota desse tipo de embarcação."Os submarinos britânicos mostraram-se de grande importância durante toda a crise, limitando a operação da esquadra argentina às águas de reduzida profundidade e garantindo o bloqueio das ilhas. Tal fato parece um argumento a favor de uma força de submarinos mais numerosa e atuante", diz o documento.Sobre o uso de infantaria, os brasileiros citam o sucesso da utilização de soldados com grande capacidade profissional pelos britânicos. "Nas ações terrestres, vimos a superioridade do combatente profissional frente ao recruta. Esse é um argumento extremamente favorável ao emprego do nosso corpo de Fuzileiros Navais, no caso de crises semelhantes".Outra lição que os militares brasileiros tiraram é sobre a dependência de armamentos dos argentinos. "A grande dependência de armamento e munição alienígenas apresentada pelas forças argentinas foi um fato decisivo para sua derrota. Essa experiência vivida pelo nosso vizinho vem corroborar a filosofia correta de nacionalização de armamento que o país vem desenvolvendo. Nota-se, no entanto, que a participação da indústria nacional ainda é incipiente no tocante a equipamentos eletrônicos e mísseis como ocorre na Argentina".

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