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Ministro israelense se diz contra beatificação de Pio XII

Herzog considera 'inaceitável' a beatificação de papa acusado de passividade durante o Holocausto

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Por Redação
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O ministro da Diáspora, Sociedade e Luta contra o Anti-semitismo israelense, Isaac Herzog, considera "inaceitável" a beatificação do papa Pio XII, a quem os judeus acusam de passividade durante o período do Holocausto.   Veja também:  Papa defende atuação de Pio XII diante do Holocausto  Bento XVI defende beatificação e canonização de Pio XII  Pio XII ordenou que judeus fossem salvos, diz Vaticano  No Vaticano, rabino diz que Pio XII traiu os judeus  Pio XII 'não poupou esforços' para ajudar judeus, diz Bento XVI   Seu pontificado (1939-1958) coincidiu com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).   "A tentativa de transformar Pio XII em santo é inaceitável", disse Herzog em declarações publicadas nesta quinta-feira, 23, pelo jornal Ha'aretz.   Herzog, filho do ex-presidente israelense Chaim Herzog (1983-1993), acrescentou que, "no período do Holocausto, o Vaticano sabia muito bem o que estava acontecendo na Europa", disse, referindo-se à perseguição de judeus em guetos e campos de concentração nazistas.   "E mesmo assim, não há provas de nenhuma medida que o papa tenha tomado e que estivesse à altura da Santa Sé", completou.   Pio XII é acusado por historiadores, pesquisadores e organizações judaicas de não ter protestado contra os nazistas pelo massacre indiscriminado de judeus. Por isso, a intenção da Santa Sé de beatificá-lo é vista com receio.   "A tentativa de beatificá-lo é se aproveitar do esquecimento (do assunto) e da falta de conhecimento geral", disse Herzog.   "Em vez de agir de acordo com o versículo bíblico 'não conspirarás contra o sangue do teu próximo', Pio XII se manteve em silêncio", acrescentou.   Segundo a imprensa israelense, a existência no Museu do Holocausto de Jerusalém de uma placa que faz alusão ao suposto silêncio de Pio XII sobre os massacres nazistas de judeus é a principal razão de o papa Bento XVI não visitar Israel.   Vaticano   O Vaticano não quis comentar as declarações do ministro Herzog, enquanto o cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo as considerou "uma intromissão em assuntos internos da Igreja".   "Não tenho nada a dizer, não quero alimentar a polêmica", declarou à imprensa o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, que na semana passada já pediu em uma declaração oficial que não se pressione o papa "em um sentido ou em outro" no caso do processo de beatificação de Pio XII (1876-1958).   Papa Pacelli (se chamava Eugenio Pacelli) comandou a Igreja entre 2 de março de 1939 e 9 de outubro de 1958 e lhe tocou viver os duros anos do nazismo e muitos historiadores o acusam de anti-semita e de não ter levantado a voz com mais força contra o regime de Hitler, algo sempre negado pelo Vaticano.   Quem se pronunciou hoje contra o ministro israelense foi o cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo, atual arcipreste da Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma, e que foi quem assinou pela Santa Sé os acordos que permitiram as relações diplomáticas com Israel em 1993 e foi o primeiro núncio nesse país.   "A Santa Sé mantém um comportamento responsável, mas certas intromissões nas questões internas da Igreja incomodam, são juízos externos", declarou o cardeal a um grupo de jornalistas.   O cardeal afirmou que atualmente Bento XVI mantém uma etapa de "reflexão" sobre o processo de beatificação de Pio XII e que "não se o deve incomodar com declarações para obrigá-lo de uma forma ou de outra".   Atualizada às 18h07

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