Moradores tradicionais de Juréia procuram alternativas

Depois dos conflitos criados com a criação da reserva, comunidade começa a criar uma nova relação com a unidade de conservação

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Por Agencia Estado
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A família do caiçara Leopoldo da Silva Neves mora na região do rio Verde há gerações. "O pai da minha mãe era dono do Grajaúna, com documento da Sesmaria. Por falta de dinheiro meu avô vendeu a faixa da praia para grileiros para legalizar a parte dos fundos, da qual temos escritura. Mas está congelada por conta da Estação", disse. Leopoldo da Silva Neves, com a mulher, encarregado do Núcleo Rio Verde. Foto: Beto Barata/AE Neves mora com a mulher e uma filha, já que os outros quatro filhos foram para a cidade, em busca de trabalho. Seus pais também moram no local e vivem de aposentadoria rural e trabalham na roça de mandioca, como as demais famílias remanescentes. Atualmente, ele é o encarregado do Núcleo Rio Verde e sente-se um privilegiado. "Aqui o acesso é feito apenas por barco e só entra quem tem cadastro ou autorização. Para mim, que tive a felicidade de ser contratado, está tudo bem, mas muitos tiveram que sair. A maior parte foi para Peruíbe, entre eles muitas famílias tradicionais. Foram sem nada, pois a maioria das propriedades tinha sido comprada de posseiros", afirma. Monitores da Associação dos Monitores Ambientais de Iguape (Amai) Foto: Beto Barata/AE Antes de trabalhar para o Estado, Neves trabalhou para os proprietários da área e para a Nuclebrás. "Era encarregado do serviço de campo e motorista. Gosto daqui e espero poder ficar, mesmo depois de me aposentar. Mas não tenho muita esperança de receber a indenização pelas minhas terras. Quem já tem dinheiro, vai receber primeiro, pois tem como brigar". Nascido na Barra do Ribeira, bairro vizinho à Estação Ecológica em Iguape, André Luiz Ferreira da Silva, 22 anos, é um dos pioneiros na monitoria ambiental na Praia da Juréia, onde ainda predomina o turismo de segunda residência ou de um dia. Segundo ele, o trabalho dos monitores da Amai é também uma parceria com a Associação de Jovens da Juréia, formada por moradores e ex-moradores da Estação. "Em 1986, todos os meios de vida da população da Juréia foram cortados e não puderam mais fazer o que seus antepassados faziam. Por isso, as pessoas foram saindo e muitos vieram para a Barra do Ribeira. Hoje fazem artesanato em caixeta, apicultura, possuem grupo de fandango, buscando assim o resgate da cultura local". Segundo Silva, a comunidade não foi chamada para participar da criação da reserva e foi desagregada depois dela. "Contrataram moradores para ser guarda-parque, gerando conflitos ainda maiores, pois era compadre fiscalizando compadre, abrindo panela para ver se estava caçando. No entanto, temos exemplos vivos mostrando que onde o morador sai, o local é mais degradado, invadido por palmiteiros, pois a fiscalização não dá conta?. Para o jovem, hoje o governo está mais flexível e um exemplo disso foi a inauguração da escola caiçara, na Cachoeira do Guilherme, a primeira dentro da Estação. "Por enquanto, são apenas cinco alunos, mas muitas crianças saíram de casa para estudar e gostariam de voltar. Com certeza, o gasto para o Estado será menor". Outro exemplo de que há uma mudança no padrão de tratamento com a comunidade é o fato dos monitores ambientais estarem desenvolvendo trabalhos também com a escola na Barra do Ribeira. Além disso, foram chamados para assistir à defesa de tese da pesquisadora da Unicamp Alik Wunder, cujo trabalho envolvia a educação da comunidade. "Os pesquisadores tem má imagem aqui, pois normalmente não dão nenhum retorno do trabalho. Dessa vez foi diferente e ficamos muito felizes com o resultado".

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