Mulheres produzem sabonetes com plantas amazônicas

Projeto, no interior do Amazonas, além de gerar renda para população ribeirinha, ajuda a conservar flora nativa

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Por Agencia Estado
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Criada em 1999, em plena Amazônia, uma fábrica de produtos com base na destilação de plantas aromáticas e medicinais está transformando a vida de um grupo de mulheres, em Silves, município localizado em uma ilha fluvial do rio Urubu, numa região de lagos, a 280 quilômetros de Manaus, no Amazonas. Através do projeto, que conta com apoio do WWF-Brasil e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), elas criaram a Associação Vida Verde da Amazônia (Avive) e fabricam produtos como sabonetes de glicerina e incensos, feitos com essências de plantas amazônicas com poder aromático e curativo. Atualmente, os principais clientes da Avive, cuja capacidade de produção é de dez mil unidades mensais, são os hotéis de selva Aldeia dos Lagos e Pousada dos Guanavenas, localizados no mesmo município da fábrica, e outros hotéis da região, como o Tropical, em Manaus. Além disso, ensaiam as primeiras experiências de exportação. Os sabonetes são vendidos ao preço de R$ 3,00 a R$ 5,00 a unidade e garantem um rendimento médio de quase R$ 5 mil ao mês. Segundo Regina Maria Célia Batista dos Santos, diretora da Associação, 30% das vendas de sabonetes e incensos é destinada à Avive e o restante é dividido entre as cerca de 30 associadas, mulheres entre 16 e 70 anos. Segundo Antônio Oviedo, coordenador do programa de várzeas do WWF-Brasil, a idéia da Associação surgiu depois que as mulheres participaram de um curso sobre sobre plantas aromáticas e medicinais, ministrado por um professor da Universidade Federal do Amazonas, e resolveram recuperar esse conhecimento tradicional. O WWF ajudou na organização, capacitação e instalação dos equipamentos, além de investir na em pesquisas sobre a melhor forma de extrair as essências. Oviedo explica que um dos problemas enfrentados foi a utilização do pau-rosa (Aniba roseadora), que é uma espécie em extinção. Assim, foi desenvolvido pelo projeto uma técnica de extração do óleo do pau rosa a partir de galhos e folhas, sem derrubar a árvore, e iniciou-se o trabalho também com outras espécies para a extração de óleos essenciais, como o puxuri (Puchury maior ou Aniba puxuri), preciosa (Aniba canellila), itaúba (Mezilaurus itauba), cedro (Cedrella odorata), andiroba (Carapa guianensis) e cumaru (Dipteryx odorata). O material é colhido de uma floresta nativa de aproximadamente 9 Km2, cedida à Avive pela Prefeitura de Silves. A intenção, no momento, é conseguir legalizar a área através da criação, pelo Ibama, de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Além disso, a Associação criou um viveiro para enriquecer a floresta com espécies nativas aromáticas, principalmente o pau-rosa, e já plantou quase 4 mil mudas. O próximo passo, segundo Oviedo, é conseguir a certificação do Conselho de Manejo Florestal (FSC). Ao Sebrae Amazonas coube a missão inicial de repassar informações técnicas sobre associativismo aos membros da Avive, a criação de uma identidade visual dos produtos e o desenvolvimento de uma estratégia de inclusão no mercado. O Projeto Comunitário de Produção Sustentável de Óleos Essenciais recebeu, em dezembro de 2001, o V Prêmio Ford de Meio Ambiente na categoria Negócios e Meio Ambiente e, na semana passada, foi contemplado, na sede das Nações Unidas, em Nova York, com o prêmio Iniciativa Equatorial, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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