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Mundo comemora o bicentenário de Charles Darwin

Darwin temia a reação da Igreja, de outros cientistas e do público a suas ideias revolucionárias

Por PETER GRIFFITHS E PAUL CASCIATO
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Seu armário de besouros está de volta ao apartamento que ele ocupava na faculdade. Sua casa virou um tesouro nacional. E, dois séculos após o nascimento de Charles Darwin, as ilhas que o levaram a formular a teoria da evolução são ameaçadas pelo turismo. Veja também Ideias de Darwin ainda ‘assustam’ Você acredita que as espécies evoluíram a partir de um ancestral comum? Escale a árvore da vida, simule a seleção natural e teste seus conhecimentos As comemorações do 200o aniversário do nascimento do homem cujo livro "Sobre a Origem das Espécies" transformou a maneira como vemos o mundo natural vêm cativando outros cientistas, membros da realeza, líderes religiosos, historiadores, presidentes, conservacionistas e autoridades de turismo em todo o muno. David Attenborough, cujos programas de televisão sobre o mundo natural foram vistos por milhões de pessoas pelo planeta afora, deu uma explicação simples sobre a atração do bicentenário. "Sem Darwin, muito pouco no mundo natural faz sentido", disse Attenborough à Reuters. "Darwin converteu a história natural em ciência." A influência do naturalista do século 19 foi festejada na universidade onde ele estudou, Cambridge, em sua casa em Kent - hoje preservada para a nação - e nas ilhas do Pacífico, ao largo do Equador, onde sua teoria começou a assumir forma. Vários livros recentes publicados sobre Darwin incluem um que propõe que o ódio que ele nutria pela escravidão foi o que o levou à teoria da evolução, e dois que estão previstos para sair este ano são do especialista em Darwin John van Wyhe, encarregado do projeto Darwin Online, da Universidade Cambridge, e da restauração do apartamento de estudante que Darwin ocupou no Christ's College, em Cambridge. Milhares de pessoas vêm assistindo à maior exposição de sua obra no Museu de História Natural de Londres, onde as atrações maiores são duas aves empalhadas de aparência comum deitadas sobre uma almofada de veludo roxo, atrás de uma vitrine de vidro na entrada da exposição. Os pássaros canoros das Ilhas Galápagos deram a Darwin as primeiras pistas para sua famosa teoria da evolução. Ele observou que os pássaros variavam um pouco de ilha para ilha, sugerindo que espécies que têm antepassados comuns evoluem com o tempo. "É a teoria mais importante da biologia moderna e forma o pano de fundo do trabalho de todos nossos cientistas", disse Alex Gaffikin, do museu, que ajudou a encenar a exposição. GEORGE, O SOLITÁRIO Nas ilhas Galápagos, a luta para encontrar uma namorada para George, o Solitário, a tartaruga macho gigante da Ilha Pinto que é a última sobrevivente conhecida de sua subespécie, é uma ilustração moderna da teoria de Darwin. Em julho, os cuidadores de George descobriram que ele tinha acasalado com uma fêmea de outra subespécie, suscitando esperanças de que sua própria subespécie pudesse ser salva. Mas parece que 80 por cento dos ovos resultantes são inférteis. Os moradores das antes idílicas ilhas Galápagos, ao largo do Equador, estavam comemorando o bicentenário de Darwin, não obstante a discussão de longa data que opõe a ecologia ao turismo nas ilhas. Leopoldo Bucheli, prefeito do município de Santa Cruz, anunciou uma festa neste 12 de fevereiro. Turistas voam para o arquipélago vulcânico todos os dias. Internet cafés, hotéis e restaurantes da moda lotam o porto principal das ilhas, Puerto Ayora, onde turistas em roupas de banho se misturam com mergulhões de patas azuis e iguanas cinzentas. A Organização das Nações Unidas (ONU) quer que o Equador proteja as ilhas do aumento do turismo e da imigração e incluiu o arquipélago em sua lista de patrimônios mundiais ameaçados. O presidente equatoriano, Rafael Correa, estuda a possibilidade de intensificar os controles de turismo e imigração. POLÊMICA Darwin tinha plena consciência de quão polêmicas seriam suas idéias revolucionárias e temia a reação da Igreja, de outros cientistas e do público. Ele disse que, quando revelou sua teoria a alguns amigos em quem confiava, sentiu-se "como se estivesse confessando um assassinato." Apesar da hostilidade inicial às idéias de Darwin, líderes religiosos disseram que hoje o reconhecem como um dos maiores cientistas britânicos e que suas idéias coexistem bem com a religião. "Darwin ficaria desapontado, até chocado, com a maneira como foi recrutado como ícone do ateísmo", disse o bispo de Swindon, Lee Rayfield, biólogo formado que faz palestras sobre ciências em nome da Igreja Anglicana. Nos Estados Unidos, onde o ensino da evolução ainda encontra a oposição de críticos religiosos, a Associação Humanista Americana promoveu um almoço no Clube Nacional da Imprensa, em Washington, para discutir o papel de Darwin em moldar a religião e a ciência. Martin Rees, presidente da Royal Society, a academia científica mais antiga do mundo, disse que a influência de Darwin "é onipresente na cultura contemporânea, mais que a de qualquer outra figura científica". Em Cambridge, Attenborough estará entre vários nomes destacados em um jantar que vão exortar que seja feito mais para proteger as Ilhas Galápagos. Horas antes, o príncipe Philip vai inaugurar uma estátua do jovem Darwin na faculdade onde o cientista estudou. No apartamento em que Darwin viveu em Christ's College, uma poltrona de couro ainda está colocada confortavelmente diante da lareira, e a mesa está posta para o jantar, como ficava nos tempos de Darwin.

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