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Museu de Zoologia da USP reabre para mostrar biodiversidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Faz nove meses que, numa reunião, os 80 cientistas, professores, pesquisadores, alunos e estagiários do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) decidiram que era preciso mostrar ao público o que é a tão falada diversidade biológica e tentar responder por que é tão grande no Brasil. O País tem 1.700 espécies de aves, enquanto na Europa só vivem 200. Por que, num hectare de mata atlântica, há centenas de árvores diversas, enquanto os bosques canadenses têm apenas meia dúzia. O resultado da proposta se tornará visível a partir de amanhã, com a reinauguração do museu, na Avenida Nazaré, 481, no Ipiranga, em São Paulo. Na entrada, o esqueleto de um imenso megatério, a preguiça-gigante de quase quatro metros de altura e outro esqueleto do passado, um tigre-de-dente-de-sabre, animais que desapareceram do Brasil há alguns milhares de anos e hoje foram substituídos por três espécies de preguiças muito menores e por sete espécies de felinos, onça-pintada, jaguatirica, gato-maracajá, suçuarana, entre eles, que, por sua vez, estão agora ameaçados de extinção, dessa vez por culpa do homem. Muito didático, o museu, reinaugurado apenas dois dias depois do Parque de Ciência e Tecnologia, também da USP, apresenta agora o crânio de um elefante ao lado do de um golfinho, para mostrar ao leigo que, do ponto de vista zoológico esses animais são filogeneticamente parentes muito próximos, enquanto as aves são comparadas com os répteis, seus ancestrais, para provar que um passarinho tem muito mais afinidade com um jacaré do que com os morcegos. Orgulho do museu, está exposta a réplica do Andreysarchus, espécie de "tataravô da baleia", o animal que fez a reversão do processo adaptativo. É o bicho que, depois de ter evoluído para conquistar a terra firme, desenvolvendo pulmões, voltou ao mar, readaptando-se ao ambiente original. Filosofia diferente Segundo a diretora da Divisão de Difusão Cultural, Mirian David Marques, que coordenou a montagem da mostra Pesquisa em Zoologia - A Diversidade sob o Olhar do Zoólogo, a exposição anterior retratava a filosofia dos pesquisadores do século 19, interessados em coletar em campo o maior número possível de espécimes e em classificá-los. "É por isso que tradicionalmente o museu apresentava 1.200 animais, os mais significativos da coleção, que está completando 109 anos." Agora, diz ela, "o pesquisador está interessado em conhecer a origem da fauna, a distribuição de cada espécie pelo continente, o ambiente em que vive e o comportamento que adota". Por isso uma seção do museu mostra o cerrado, com a vegetação típica e os animais da região - periquitos, lagartos, o raro e pequeno tuco-tuco, siriema, arara-canindé, lobo-guará, tamanduá-bandeira e tamanduá-de-colete -, para destacar a biodiversidade que levou um tamanduá a viver no solo, comendo cupins, enquanto a outra espécie se adaptou à vida arbórea, para não haver competição entre elas. A seção da mata atlântica é mais impressionante. Apresenta bromélias, orquídeas, árvores imensas, cipós, vegetação que garante matéria-prima para os ninhos de aves, também expostos, perto dos macacos comedores de folhas, os sagüis que comem frutas, novamente a biodiversidade garantindo a convivência de espécies sem disputas pelo alimento. Para montar esse setor, os pesquisadores do museu passaram semanas na Estação Biológica de Boracéia, no litoral, e todas as suas ferramentas, dos coletes e botas para a mata aos frascos para coleta, estão igualmente expostos. Outros bichos A exposição mais rica, porém, é a de peixes, destacando a imensa variedade: os peixes de couro, de escama, os pulmonados como a pirambóia, que vêm à tona respirar, os chatos, adaptados à vida no fundo dos rios e mares, os minúsculos, capazes de penetrar entre ramos de coral para buscar alimento e todo o arsenal mimético, para escapar aos predadores. À parte, são apresentados os gigantes dos mares, como um caranguejo-aranha do Mar do Japão, de quase dois metros, de ponta a ponta de suas longas pernas. O diretor do museu, Carlos Roberto Brandão, explica que, embora a exposição tenha didática extremamente moderna, muitos animais expostos são velhos e o olhar cuidadoso vai perceber as orelhas carcomidas do lobo-guará empalhado, o pêlo que falta num ombro da onça-pintada, a jaguatirica que não esconde as muitas restaurações pelas quais passou. "O motivo é que nenhum animal foi abatido para ser exposto", explica. "O museu aproveitou peças coletadas até há cem anos e a renovação só será feita à medida que morrerem naturalmente os animais do Zoológico que nos interessam." Uma lista dos bichos e esqueletos disponíveis no zôo já foi entregue e o crânio de elefante, por exemplo, tem essa procedência. O diretor insiste que o objetivo não é dar todas as respostas. "Hoje, se perguntarmos a dez pessoas o que é biodiversidade biológica, receberemos igual número de respostas diferentes". comenta. " Queremos, que o público entenda por que é preciso preservar algo que nem conhecemos adequadamente, que nos ajude para que possamos um dia saber exatamente por que o Brasil é tão aquinhoado, por que temos uma biodiversidade maior que a de todos os outros países. E, é claro, que ajude a defendê-la." Nesse sentido, completa, "nossos visitantes sairão daqui com uma grande dúvida e é isso o que queremos". Gerações Oficialmente, o Museu de Zoologia tem 109 anos, começou a ser organizado em 1893 como uma seção de História Natural do Museu Paulista. A origem da coleção é bem mais antiga, porém, pois os mamíferos, aves e principalmente os insetos, um milhão de espécimes conservados, provêm das coleções particulares do major Sertório e do conselheiro Mayrink, de meados do século 19. A elas foram acrescentadas as coletas promovidas pela Comissão Geológica e Geográfica, criada em 1880. Essa comissão daria início ao museu, que na década de 30 passou a ser dirigido por pesquisadores alemães. O prédio atual é de 1939 e guarda um acervo tão grande que, para analisar as peças, Mirian Marques garante ter "trabalho para algumas gerações de cientistas, para muitas décadas de estudos". Além da imensa coleção de insetos, o museu guarda uma das maiores coleções de peles de macacos do mundo. São centenas de gavetas com peles taxidermizadas, objeto de consulta de pesquisadores do mundo inteiro, que se valem dela para definir espécies, subespécies, características. A coleção de peles de aves não fica atrás e ainda agora, no trabalho de levantamento da fauna dos terrenos a ser inundados pelas represas de Paraitinga e Biritiba, pesquisadores do Daee estão coletando centenas de aranhas para enriquecer a coleção do museu. A coleção de espécies de formigas é a mais representativa da América Latina e o imenso porão do museu está tomado pela coleção de peixes. São dezenas de milhares, cada espécime com uma ficha indicando data e condições da coleta, local onde foi capturado, todos os detalhes, vitais quando se sabe que muitos desses exemplares correspondem a espécies ainda não classificadas ou, pior, que em breve poderão estar extintas. O Museu funcionará de terça a domingo, das 10 às 17 h. Ingresso a R$ 2. Informações pelos telefones: 6165-8100/8140.

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