Começa nesta quarta-feira uma das missões mais importantes da história da exploração espacial: se o tempo permitir - e tudo mais correr dentro do planejado -, o ônibus espacial Discovery deverá partir do Cabo Canaveral, na Flórida, às exatas 16h51 (horário de Brasília). No compartimento de carga, 15 toneladas de suprimentos e equipamentos destinados à Estação Espacial Internacional (ISS). E nos ombros, a responsabilidade de fazer um vôo perfeito. Será o primeiro lançamento de um ônibus espacial em mais de dois anos, desde o acidente do Columbia, no qual morreram sete astronautas. O shuttle se desmantelou sobre o céu do Texas no dia 1º de fevereiro de 2003, quando uma rachadura na carapaça de isolamento térmico permitiu que gás superaquecido penetrasse na estrutura da nave durante a reentrada na atmosfera. A brecha foi causada por um detalhe aparentemente inofensivo: uma placa de espuma, de aproximadamente meio quilo, que se desprendeu do tanque externo de combustível durante o lançamento e atingiu a asa esquerda. O impacto foi detectado pelos técnicos da Nasa, mas erroneamente descartado como irrelevante para a segurança da nave. Após o acidente, um longo processo de investigação foi realizado, resultando em uma série de críticas e recomendações à agência espacial americana. Dois anos depois, mais de US$ 1 bilhão foram gastos para tornar mais seguros os três shuttles remanescentes: Discovery, Endeavor e Atlantis. O lançamento desta quarta é o primeiro teste. E a responsabilidade cabe pela segunda vez ao Discovery, que também fez o vôo de retorno após a explosão do Challenger, em 1988. Um novo acidente poderá significar o fim do programa de ônibus espaciais e comprometer significativamente a construção da ISS - um projeto de US$ 100 bilhões - já que os shuttles são as únicas espaçonaves capazes de transportar os módulos restantes até a estação. "Este vôo abre um novo capítulo da exploração espacial", disse a comandante da missão, Eileen Collins. "Estamos fazendo o que precisamos fazer como seres humanos, que é explorar. Ao explorar, continuamos a fazer este mundo um lugar melhor para viver e continuamos a evoluir como espécie humana." Mais segurança - Dezenas de modificações foram feitas no Discovery para permitir que ele volte ao espaço. Entre elas, uma extensão para o braço robótico do compartimento de carga, que permitirá inspecionar a fuselagem inferior da nave no espaço. A placas de carbono que protegem o nariz e as bordas das asas foram reforçadas. Câmeras espalhadas pela espaçonave e em terra deverão monitorar o lançamento de todos os ângulos possíveis. E a proteção de espuma que condenou o Columbia foi removida do tanque externo de combustível. Sua função foi substituída por aquecedores elétricos, projetados para evitar a formação de gelo no exterior do tanque. Caso algum problema seja detectado, a tripulação poderá tentar remediá-lo em órbita ou refugiar-se na ISS até que uma operação de resgate possa ser organizada. Das 15 principais recomendações feitas pelo comitê de investigação, três não foram atendidas. Ainda assim, o administrador da Nasa, Michael Griffin, disse que o Discovery é tão seguro quanto possível dentro dos limites do conhecimento humano. "Se alguém quiser mais do que isso, terá de encontrar seres humanos mais inteligentes."