Natureza levaria 100 mil anos para reverter aquecimento

Oceanos devem ser capazes de absorver CO2, mas processo será lento, com uma acidificação das águas, segundo estudo

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Por Agencia Estado
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O dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis será absorvido pelos oceanos, o que pode resolver o aquecimento global, segundo um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia. O problema é que esse processo levará 100 mil anos para se concluir, como aconteceu com o último aquecimento no planeta, há 55 milhões de anos. Segundo um estudo publicado na Science, a prova de que isso já aconteceu foi encontrada em sedimentos marítimos depositados durante um período de aquecimento global chamado Máxima Termal Paleoceno/Eoceno (PETM). Esses sedimentos revelaram que uma mudança abrupta na química marinha começou a se desenvolver a partir do PETM, a que se seguiu um longo e lento período de recuperação. "O tempo de recuperação é muito longo. Dezenas de milhares de anos passarão antes de os níveis desse dióxido de carbono atmosférico começarem a baixar para níveis pré-industriais", disse James Zachos, professor de Ciências da Terra da Universidade da Califórnia. Absorção Os oceanos têm uma enorme capacidade de absorver o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. As águas absorveram quase metade do CO2 que o homem produziu nos últimos 200 anos, ou seja, cerca de 120 bilhões de toneladas de carbono. Quando o CO2 se dissolve na água, esta se torna mais ácida, até mesmo em altas profundidades. Zachos, ao pesquisar as camadas sedimentares do oceano, conseguiu observar os efeitos da rápida acidificação durante o PETM. A pesquisa revelou que a quantidade de CO2 que poluiu a atmosfera causou um aquecimento global muito mais grave do que se pensava até agora. CO2 e metano A origem do atual aquecimento global é atribuída em maior parte à queima de combustíveis fósseis, os quais produzem metano e dióxido de carbono, principais componentes dos gases causadores do efeito estufa. Mas há 55 milhões de anos, segundo os cientistas, o aquecimento global foi causado pelo metano liberado de depósitos submarinos próximos à plataforma continental. O metano reagiu com o oxigênio, gerando enormes nuvens de dióxido de carbono e, conseqüentemente, provocando um aumento de cinco graus centígrados em média na temperatura global. Os fósseis dessa época mostram que ocorreram mudanças dramáticas na vida animal e vegetal, tanto em terra quanto nos oceanos. Quantidade de gases Até agora se calculava que a quantidade de gases estufa liberados na atmosfera durante o PETM tinha sido de 2 trilhões de toneladas. O novo estudo indica que seria necessário mais que o dobro desta quantidade - acima de 4 trilhões de toneladas - para causar resultados semelhantes aos demonstrados pelos sedimentos. Este montante - cerca de 4,5 trilhões de toneladas de CO2 - é o que os cientistas prevêem que será produzido com a queima de combustíveis fósseis nos próximos três séculos. Carapaças As conclusões do estudo se baseiam nos efeitos da acidificação do mar na química do carbonato de cálcio, mineral existente na carapaça de certos tipos de fitoplânctons e de outros seres marinhos. Quando estes organismos morrem, suas conchas se depositam no fundo do mar e se dissolvem por causa da grande acidez. Essa dissolução do carbonato de cálcio permite que o mar armazene grandes quantidades de CO2 em forma de íons. "O carbonato de cálcio aumenta a capacidade de absorção do fundo do mar de modo que, eventualmente, a maior parte das mudanças de acidez causadas pela acumulação de dióxido de carbono na atmosfera fica neutralizada", afirmou o cientista.   mudanças climáticas

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