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No fundo do mar, enzimas que podem combater a aids

Elas são capazes de separar compostos utilizados na maioria dos remédios, isolando apenas o que é útil

Por Agencia Estado
Atualização:

Duas enzimas com possíveis aplicações em tratamentos contra a aids foram descobertas no Mar Mediterrâneo por seis pesquisadores europeus. Com estruturas desconhecidas até o momento, elas poderiam ser utilizadas na síntese de novos antibióticos beta-lactâmicos. Segundo Manuel Ferrer, do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, a descoberta feita a 3.550 metros de profundidade abre caminho para a elaboração de novas moléculas de alto valor terapêutico. Uma das enzimas é capaz de separar de forma eficaz os enantiômeros, tipos de compostos utilizados na maioria dos remédios. Estas substâncias, conhecidas por suas capacidades antiinflamatórias e antitumorais, têm idêntica fórmula molecular, mas não as mesmas propriedades. Por isso o uso de mais de uma delas em um só remédio causa efeitos colaterais. A enzima é capaz de separar eficazmente os enantiômeros R e S, pertencentes ao grupo dos álcoois primários solketal. Neste caso, apenas o enantiômero R tem atividade biológica nos tratamentos contra a aids. Por isso é necessário separá-lo do tipo S, o que até agora só havia sido obtido por meios químicos e de forma muito complicada, segundo Ferrer. A peculiaridade das duas enzimas é fruto de um processo de isolamento e adaptação no ambiente marítimo de mais de 176 mil anos, um período em que ambas desenvolveram novas estruturas e capacidades para minimizar custos energéticos e maximizar as fontes de carbono assimiláveis em um ambiente inóspito. Os pesquisadores encontraram outras três enzimas de interesse científico, todas em uma fossa formada há aproximadamente 6 milhões de anos, caracterizada por uma elevada concentração de sal e enxofre e pela ausência de oxigênio e luz.

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