Nova vacina contra o Ebola mostra eficiência em macacos

Ao 'desligar' gene que possibilita infecção de células do hospedeiro, pesquisadores puderam criar vacina que usa o vírus completo

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Um grupo de cientistas desenvolveu uma nova vacina contra o Ebola, que mostrou eficácia em macacos. A vacina, que usa uma plataforma experimental inovadora, foi descrita em artigo na revista Science, que será publicada nesta sexta-feira, 27. A principal novidade da nova vacina é que ela emprega o vírus completo "desativado". Por conter todas as partes do vírus, deixa o sistema imunológico alerta para todas suas proteínas e genes, o que aumenta a proteção. "Em termos de eficácia, ela garante excelente proteção. E é também uma vacina muito segura", disse o coordenador do estudo, Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison.

Para produzir a vacina, cientistas "desligaram" um gene do vírus que comanda a fabricação da proteína, chamada VP30, que ele utiliza para se reproduzir nas células. Com isso, o vírus não produz a proteína e não consegue utilizar a seu favor a estrutura da célula hospedeira. O vírus do Ebola tem apenas oito genes e, como a maior parte dos vírus, depende da estrutura das células hospedeiras para crescer e se tornar infeccioso. 

Nova vacina emprega o vírus completo 'desativado' Foto: AP

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Segundo os autores, a utilização do vírus incapaz de produzir a proteína VP30 permite que pesquisadores trabalhem de maneira segura com o vírus. Graças a essa ideia, os cientistas puderam desenvolver a vacina que utiliza o vírus completo. Até agora, vários testes clínicos feitos antes com o vírus completo haviam sido suspensos depois do registro de efeitos colaterais em alguns indivíduos - e as pesquisas eram limitadas pelo alto risco da manipulação do vírus completo. 

Para garantir a inativação do vírus, além da estratégia de "desligamento" de genes, o grupo também usou um método químico, com base em peróxido de hidrogênio.

A nova vacina já havia sido testada em camundongos em estudos anteriores do mesmo grupo, mas pela primeira vez mostrou eficácia em quatro macacos que foram imunizados. A vacina ainda não foi testada em humanos. Os estudos foram realizados nos Laboratórios Rocky Mountains, do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), no Estado de Montana (Estados Unidos). O laboratório tem nível 4 de biossegurança, que é o mais alto grau de rigor para instalações de pesquisas com patógenos.

Segundo Kawaoka, os estudos foram feitos em macacos Cynomolgus, da mesma família dos macacos Rhesus. "Esse é o melhor modelo. Se você consegue proteção com esse modelo, significa que está funcionando", disse Kawaoka.

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