Cientistas dos Estados Unidos isolaram um anticorpo produzido no organismo humano que se mostrou capaz de reduzir drasticamente a infecção por zika em camundongos gestantes, evitando danos à placenta e impedindo a transmissão da doença para os fetos. O anticorpo também foi capaz de proteger animais adultos da zika.
De acordo com os autores da pesquisa, que teve seus resultados publicados ontem na revista Nature, a descoberta poderá acelerar o desenvolvimento de vacinas e também de terapias contra a zika, já que o anticorpo mostrou eficácia semelhante ao ser administrado antes e depois da infecção pelo vírus em fêmeas grávidas.
Por causa das diferenças entre as características da gestação em humanos e em roedores, será preciso realizar novos estudos para que a descoberta tenha aplicação clínica, mas a equipe de cientistas, liderada por James Crowe, da Universidade Vanderbilt, no Tennessee (Estados Unidos), acredita que a descoberta logo poderá ser útil para os esforços de desenvolvimento de uma vacina efetiva contra a zika.
“Esses anticorpos são produzidos naturalmente pelo corpo humano representam a primeira intervenção médica que evita a infecção por zika e o dano aos fetos. Estamos animados, porque os dados sugerem que podemos ter nas mãos um tratamento com anticorpos que pode ser desenvolvido para o uso em mulheres grávidas”, disse Crowe.
Segundo Crowe, o novo anticorpo é a primeira demonstração de que um antiviral pode funcionar para proteger fetos do vírus durante a gravidez. “Essa é uma prova do princípio de que o vírus da zika é tratável durante a gravidez e nós já temos um anticorpo humano capaz de fazê-lo - pelo menos em camundongos”, declarou.
Defesas naturais. Os anticorpos foram isolados a partir de glóbulos brancos - células que integram a defesa imunológica do organismo - obtidos a partir do sangue de três pessoas que já haviam sido infectada por zika.
Depois de analisar 29 anticorpos encontrados no sangue dos pacientes, os cientistas descobriram que um deles - batizado de - ZIKV-117 - mostrava-se especialmente potente ,em testes preliminares, contra cinco diferentes linhagens do vírus.
O anticorpo ZIKV-117 foi então testado em camundongos geneticamente preparados para se tornarem suscetíveis à zika. Em dois experimentos separados, camundongos gestantes receberam o tratamento um dia antes, ou um dia depois da infecção. Em ambos os casos, a carga viral foi reduzida tanto na mãe como no feto, houve menos danos à placenta e os camundongos nasceram maiores. Segundo os autores, as placentas das fêmeas tratadas com o anticorpo pareciam normais e saudáveis, ao contrário das fêmeas não tratadas, que apresentaram destruição do tecido placentário. De acordo com eles, os danos à placenta retardam o crescimento do feto, levando também a danos neurológicos.
“Não observamos nenhum dano aos vasos sanguíneos dos fetos, às placentas, nem qualquer tipo de problema de crescimento dos fetos tratados com o anticorpo, disse outra das autoras do estudo, Indira Mysorekar, da Universidade de Washington (Estados Unidos).
Para outro dos autores, Michael Diamond, também da Universidade de Washington, o tratamento poderá ser útil tanto como medida de prevenção, quanto como terapia. "A notável potência e abrangência do ZIKV-117 é uma grande promessa, já que o anticorpo inibiu a infecção por linhagens africanas, asiáticas e americanas do vírus da zika, em culturas de células e em animais, antes e depois da gravidez.”