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O mundo está mais degradado, mas ainda tem conserto

O Worldwatch Institute divulga o relatório Estado do Mundo 2002 e aponta os maiores desafios para a Conferência de Joanesburgo, a Rio+10.

Por Agencia Estado
Atualização:

"O mundo precisa declarar uma guerra global à pobreza e à degradação ambiental, tão agressiva e fundamentada como a guerra contra o terrorismo". Assim os representantes do Worldwatch Institute, instituição independente de pesquisa dos Estados Unidos, iniciaram hoje a apresentação do relatório Estado do Mundo 2002, em Washington. Segundo eles, a disputa por recursos naturais - sobretudo água, petróleo, minérios ou madeira - está na origem de pelo menos um quarto das 49 guerras e grandes conflitos ocorridos desde 2000. "Atender às necessidades humanas básicas, conter o crescimento populacional sem precedentes e, ao mesmo tempo, proteger recursos naturais como a água doce, florestas e estoques pesqueiros são todos pré-requisitos para sociedades estáveis e saudáveis", diz o documento. "Construir um mundo mais sustentável e seguro não poderia ser mais urgente". O Estado do Mundo é publicado anualmente desde 1984, com dados globais sobre o estado dos recursos naturais, população, produção de alimentos e saúde, além de análises de tendências, que oferecem um norte a autoridades internacionais e nacionais na orientação de políticas ambientais, tratados e acordos. O documento deste ano tem o prefácio do secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e deverá servir de base para várias discussões na Cúpula Mundial de Meio Ambiente (Rio+10), que acontece em Joanesburgo, na África do Sul, entre 26 de agosto e 4 de setembro. Para Kofi Annan, "é, de fato, muito tarde para se perceber a lacuna entre as metas e promessas acertadas no Rio (durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio92) e a realidade diária diferenciada dos países ricos e pobres. Mas não é tarde demais para colocar as mudanças em marcha de modo mais convincente". Segundo ele, apesar das diferenças em termos de responsabilidade para alcançar o equilíbrio sustentável entre natureza e economia humana, "todos nós devemos entender que não apenas enfrentamos ameaças comuns como também oportunidades comuns, se respondermos a este desafio como uma única comunidade humana". O relatório traz algumas notícias boas, como a queda dos índices mundiais de mortalidade devido a pneumonia, diarréia e tuberculose, e o sucesso na redução da produção e emissão de gases nocivos à camada de ozônio, sobretudo nos países industrializados. Também ressalta avanços no banimento dos 10 principais poluentes orgânicos persistentes (POPs), com a assinatura da Convenção de Estocolmo, em 2001. Mas a maioria das análises aponta o depauperamento acelerado dos recursos naturais e crescimento das agressões ambientais, confirmando tendências negativas indicadas nos documentos anteriores. O crescimento populacional, embora desacelerado, ainda é tido como o principal responsável pelo mau estado dos recursos naturais. A taxa mundial anual de crescimento populacional caiu dos 2,1% nos anos 60 para os 1,3% atuais. Mas isso ainda significa cerca de 77 milhões de pessoas a mais, a cada ano, demandando comida e conforto. Sinais de degradação Um dos fracassos mais lamentados é o aumento das emissão dos gases relacionados ao aquecimento global da atmosfera, de 9% em 10 anos, em conseqüência da falta de engajamento dos principais poluidores - com os EUA no topo da lista - em programas efetivos de redução. Diante da reticência dos governos, algumas grandes empresas multinacionais - como a British Petroleum (BP), DuPont e Nike - e dezenas de empresas de cada país resolveram anunciar compromissos próprios de redução de emissões, representando um contraponto positivo às infrutíferas reuniões dos signatários da Convenção de Mudanças Climáticas. Nos oceanos, a degradação dos recifes de corais, devido à poluição e variações mais bruscas de temperatura, cresceu de 10% para 27%, no período que nos separa da Rio92. A produção de resíduos tóxicos não parou de crescer, situando-se hoje entre 300 a 500 milhões de toneladas anuais. Os indicadores de saúde são bons nos países desenvolvidos, onde a expectativa de vida aumentou significativamente, mas aproximadamente 30 mil pessoas ainda morrem, diariamente, em conseqüência de doenças contagiosas, por falta de acesso à água potável de boa qualidade e de saneamento básico. E o número de mortes devido à aids é, agora, seis vezes maior do que no início dos anos 90. Alternativas e desafios Entre os desafios que se colocam diante dos governantes mundiais e dos organismos ambientais internacionais, os autores do Estado do Mundo 2002 destacam a eliminação dos subsídios perversos à agricultura, com a migração de tais recursos para práticas ecologicamente aceitáveis; diminuição do uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos e redução dos impactos na criação intensiva de animais para abate (sobretudo porcos e bovinos). Acabar com o chumbo na gasolina, taxar as emissões de metais pesados e subprodutos industriais tóxicos e eliminar componentes persistentes em usos dissipativos (agricultura e limpeza), além do incentivo ao desenvolvimento de tecnologias e materiais mais limpos e seguros são outros desafios considerados importantes. A certificação de produtos florestais e minerais, o aumento do controle ao comércio ilegal de recursos, assim como o consumo sustentável, são algumas das alternativas de desenvolvimento que merecem mais investimentos. Mais cooperação e coerência entre as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial de Comércio são enfaticamente recomendadas. E para comunidades, até agora marginalizadas, o turismo sustentável é uma saída, conforme o relatório. O setor cresceu 40% na última década e atualmente leva um em cada 5 turistas dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento (contra um a cada 13, nos anos 70). O principal desafio é injetar mais recursos nos locais de destino, que arca com os custos ambientais e sociais. Hoje, metade da receita gerada ainda permanece nos países de origem.

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