
28 de março de 2012 | 21h08
As duas personalidades conversaram por cerca de 30 minutos na Nunciatura Apostólica (embaixada do Vaticano) em Havana, pouco antes de Bento 16 encerrar sua visita de três dias à ilha comunista, na qual defendeu mais liberdades e um maior papel para a Igreja Católica.
Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse que o papa, de 84 anos, e Fidel, de 85, tiveram uma "troca de ideias" numa atmosfera "muito cordial", apesar das profundas divergências ideológicas que os separam.
Durante seu governo (1959-2008), Fidel transformou Cuba em um Estado comunista e oficialmente ateu, embora nas últimas duas décadas as relações entre Igreja e regime tenham melhorado.
Fidel chegou para a reunião num comboio de veículos da marca Mercedes, sob forte esquema de segurança. Foi amparado por dois auxiliares que o ajudaram a subir lentamente a escadaria do casarão, onde Bento 16 pernoitou de terça para quarta-feira, e onde seu antecessor, João Paulo 2o, se hospedou na histórica visita a Cuba em 1998.
"O que faz um papa?", perguntou Fidel a Bento 16. O pontífice então falou do seu ministério, das suas viagens internacionais e do seu serviço à Igreja. Disse também que estava feliz por visitar Cuba e por ter sido tão bem acolhido.
Usando agasalho esportivo Reebok e um cachecol, apesar do forte calor em Havana, Fidel disse ao papa que assistiu a todos os eventos da visita pela TV. Dois filhos dele também foram apresentados a Bento 16.
Fidel, que atualmente se dedica a receber dignitários estrangeiros e escrever artigos opinativos na imprensa local, perguntou ao papa sobre mudanças na liturgia católica, e pediu o envio de um livro que o auxilie em suas reflexões. Lombardi disse que o papa pensaria em uma obra apropriada para remeter.
Ainda segundo o porta-voz, a dupla discutiu problemas mundiais sob pontos de vista religiosos, científicos e culturais. E Bento 16 falou a Fidel sobre o problema da ausência de Deus em grande parte da sociedade atual, e sobre a relação entre fé e razão.
Enquanto aguardava o papa, Fidel disse ter grande admiração pela madre Teresa de Calcutá e por João Paulo 2o, cuja visita há 14 anos foi um divisor de águas nas relações entre Igreja e Estado.
Antes da visita de João Paulo 2o, Fidel reabilitou o Natal como feriado nacional em Cuba. Na terça-feira, em reunião com o presidente Raúl Castro - irmão caçula de Fidel -, o papa pediu que a Sexta-Feira Santa também passe a ser considerada feriado na ilha.
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