O Sudeste, real e em cores, visto do espaço

Embrapa disponibiliza, via Internet, os mosaicos de imagens de satélite dos estados do Sudeste

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Por Agencia Estado
Atualização:

Autoridades, professores, estudantes, pesquisadores e curiosos já podem "navegar" sobre as imagens dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo como eles realmente são, fazendo sucessivas aproximações nas localidades de interesse, até o limite de 30 metros. A Embrapa Monitoramento por Satélite, de Campinas (SP), disponibiliza, a partir de hoje, em seu site (http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br), os mosaicos de imagens de satélite dos 4 estados do Sudeste brasileiro, dando seqüência ao trabalho iniciado em 2000, com os estados da Amazônia e, em 2001, com todo o Nordeste. "Temos o registro de cerca de 800 mil downloads (cópias eletrônicas) dos mosaicos da Amazônia e Nordeste, indicando uma democratização muito grande das imagens de satélite, antes acessíveis apenas a poucos pesquisadores ou autoridades", comenta Evaristo Eduardo de Miranda, coordenador do trabalho. Os downloads são identificados e obedecem à seguinte distribuição: 20% feitos por organizações não-governamentais (ongs) nacionais e internacionais, como WWF, Greenpeace, Conservation International e The Nature Conservancy; 20% por professores e estudantes do ensino fundamental e médio; 30 a 40% por órgãos de governo, municipais, estaduais ou federais, incluindo secretarias de planejamento, meio ambiente e agricultura, IBGE, Ibama, Sivam e Exército; os restantes 20 a 30% são de pesquisadores de universidades, de outras unidades da Embrapa e instituições de pesquisa, ficando um pequeno percentual para fazendeiros e proprietários rurais. Alta densidade A visão espacial dos estados do Sudeste evidencia a alta densidade populacional, sobretudo de Minas Gerais e São Paulo. A mancha metropolitana da capital paulista assusta e se parece com um tumor, estendendo-se, em processos claros de conurbação (junção de zonas urbanas), na direção das cidades das vias Anhangüera e Bandeirantes. A densidade agrícola também impressiona, em algumas zonas, com sinais claros de alta produtividade e cuidados com a erosão, como as lavouras cheias de barramentos para águas das regiões de Assis e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, ou todo o "nariz" de Minas Gerais. "Vemos um grande aumento dos reflorestamentos perto de Uberlândia e um processo de intensificação agrícola em todo o nordeste mineiro, de Januária a Itacarambi, na margem direita do rio São Francisco", observa Miranda. "É uma região de transição para o clima semi-árido, ecologicamente frágil, que merece atenção. Minas, aliás, é um dos estados mais diversificados do país, em situações ecológicas, equivalente apenas à Bahia: são muitos países dentro de Minas". Ele ainda alerta para o desmatamento acelerado das serras da Mantiqueira e Espinhaço, na divisa com o Espírito Santo. A chamada Zona da Mata mineira está sob processo intenso de degradação, com exceção de algumas áreas nas margens do rio Doce. O risco é ficar como o Pontal do Paranapanema, em São Paulo, onde a única grande mancha verde é o limite estrito do Parque Estadual Morro do Diabo, em torno do qual só existem remanescentes florestais dentro de propriedades privadas. "Mas o mosaico de imagens de satélite também mostra fenômenos naturais interessantes, como a marca da cratera, do vulcão que existia em Poços de Caldas, há milhões de anos", ressalta o pesquisador. Paciência e memória eletrônica A elaboração dos mosaicos não é uma simples colagem de imagens, mas demanda um paciente trabalho de georreferenciamento e acerto de registros, tanto mais difícil quanto mais acidentado é o relevo da área em questão. Muitas vezes as imagens correspondem a dias diferentes, tomadas em condições diversas de luz e sombra, e as emendas precisam ser trabalhadas em softwares especiais, para serem homogeneizadas, sem perda de qualidade. Alguns estados muito grandes e com muitos detalhes, de regiões bem diferentes entre si, demandam paciência extra e muitos recursos informáticos. "Foi o caso de Minas Gerais, desta vez", conta Carlos de Assis Paniago, da Embrapa Monitoramento por Satélite, responsável pela programação e pelo desenvolvimento das ferramentas utilizadas. "Os arquivos eram tão grandes que ultrapassamos os limites de memória, então tivemos de separar a imagem em 3 bandas, depois arquivar ´em camadas´, mais ou menos como se faz na impressão em cores, no papel, com uma camada de tinta para cada cor básica". Ele acrescenta que, desde novembro de 2000, quando o mosaico de imagens de satélite dos estados da Amazônia foi disponibilizado, a pergunta mais freqüente dos usuários era a data em que São Paulo teria tratamento semelhante. "Agora, acredito que esta pergunta será substituída pelos pedidos do Rio Grande do Sul e Goiás, que já estão em segundo lugar", diz. Os seis estados que faltam para completar todo o país - Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - serão disponibilizados juntos, provavelmente até o fim deste ano. Junto a Uberlândia (MG), a agricultura intensiva, irrigada por pivôs centrais (círculos verde vivo), começa a conviver com grandes reflorestamentos (em verde escuro). As áreas agrícolas, no norte de Minas, estendem-se até as margens dos rios, sem poupar sequer as matas de galeria. A metrópole paulistana (em roxo) se estende na direção de outras cidades, cercando também os próprios mananciais de água (em azul escuro as represas Billings e Guarapiranga). Poços de Caldas (em lilás) fica inserida na cratera de um extinto vulcão, tendo as bordas da cratera (em verde mais intenso) como limite. O Parque Estadual Morro do Diabo, no Pontal do Paranapanema (SP), ilhado pela agricultura, tendo ao centro o morro que lhe dá nome.

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