O Prestige, petroleiro de casco simples, de 26 anos, bandeira de conveniência das Bahamas, propriedade da empresa grega Mare Shipping Inc., afundou. "Posso confirmar que o Prestige afundou. A seção de proa foi ao fundo (no início da tarde de hoje pelo horário de Brasília)", disse Lars Walder, porta-voz da Smit Salvage, empresa holandesa especializada em salvamento marítimo e cujos rebocadores tentavam levar o navio para alto mar e águas portuguesas, mais calmas. Ambientalistas prevêem desastre sem precedentes, mas especialistas têm dúvidas. Para eles o petróleo pode endurecer e ficar no fundo por muito tempo. Com o afundamento, 70.000 toneladas de óleo combustível estão agora a 3.600 metros de profundidade e a 250 quilômetros da costa espanhola e 300 quilômetros das praias portuguesas. Para Christopher Hails, diretor da WWF Internacional, "se todo esse óleo escapar dos tanques, então é um desastre duas vezes pior que o do Exxon Valdez, o pior até agora conhecido." O desastre começou na quarta feira da semana passada. Em meio a uma tempestade, o casco rompeu abrindo um buraco de dez metros de diâmetro. Vazaram 5.000 toneladas de óleo combustível que cobriram 50 quilômetros de praias da Galícia. Com o afundamento, Arsenio Fernadez de Mesa, delegado do governo central na Galícia, estima que "mais 6.000 toneladas de óleo vazaram e agora é ver se ele alcança a costa". É possível que os 250 quilômetros até a costa espanhola, em um mar agitado, dispersem o óleo. Mas por precaução, as autoridades portuguesas começaram a se preparar para uma contaminação de suas costas. O comandante Louro Alves, responsável pelo porto de Viana do Castelo, no extremo norte de Portugal, avalia que "existem sérias possibilidades de que a costa portuguesa seja alcançada pela maré preta". E o medo de contaminação das praias alcança também a França, onde o presidente Jacques Chirac desabafou: "É urgente tomar medidas um pouco draconianas, sérias e severas, mesmo que elas conflitem com os interesses de certas empresas". Lembrando evento semelhante, há três anos, com o petroleiro Erika, Chirac disse que "nós precisamos de uma polícia de alto mar. Navios fantasma como esse não podem circular com todo perigo que implicam". Mas e o óleo que está no fundo do mar com o Prestige? Para Antonio Cortés, especialista do Instituto Espanhol de Petroquímica, "afundar era o melhor que podia acontecer ao Prestige, pois com isso o óleo vai se solidificar no fundo do mar". Opinião oposta tem Michel Girin, especialista francês em poluição marinha. Para ele, "o afundamento longe da costa significa que o navio será uma fonte de contaminação durante vários anos". Enquanto isso, milhares de pescadores da Galícia estão sem trabalho nesse final de ano. Não vão voltar tão cedo.