ONGs comemoram inclusão de florestas em acordo de Bali

Pela primeira vez, desmatamento é abordado na convenção do clima da ONU.

PUBLICIDADE

Por Eric Brücher Camara
Atualização:

Encerrada a conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o clima, organizações não-governamentais contabilizam entre os principais sucessos obtidos em Bali a inclusão inédita de um artigo sobre desmatamento na convenção climática. O texto fala sobre redução de emissões por desmatamento e degradação em florestas de países em desenvolvimento (REDD), e abre caminho para a implantação do projeto brasileiro de criar um fundo para o combate à destruição florestal. O texto aprovado neste sábado em Bali também possibilita o aproveitamento de mecanismos de mercado para recompensar reduções de desmatamento. "Para nós, foi uma batalha vencida. Lutamos por isso durante sete anos", disse Paula Moreira, representante do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). A REDD também foi incluída no chamado "mapa do caminho de Bali" - o documento que vai nortear as discussões até 2009 para um acordo que possa substituir o Protocolo de Kyoto, que vai vigorar até 2012. A inclusão foi considerada fundamental pelo coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Mauro Armelin. "É uma decisão para se comemorar muito", disse Armelin. "Houve uma cooperação muito boa entre ONGs e governo brasileiro em torno dessa questão." O "mapa de Bali", considerado o principal resultado do processo, prevê "ações políticas e incentivos positivos" para REDD. Além disso, o texto cita o papel da conservação, do uso sustentável das florestas e do crescimento dos estoques de carbono da floresta Por trás da linguagem protocolar está a possibilidade de financiamento e captação de recursos - uma das principais preocupações de países tropicais mais pobres. "Ainda falta o principal", disse Paulo Adario, coordenador da campanha Amazônia Greenpeace. "Faltam fontes concretas de recursos financeiros - nacionais e internacionais - em volume suficiente para zerar o desmatamento em menos de uma década." A nova decisão recomenda a mobilização de fundos nos países desenvolvidos para ajudar na redução do desmatamento das florestas tropicais, além de incentivar o "gerenciamento sustentável" das matas. Uma questão que criou polêmica na última fase de negociações foi a inclusão ou não de referências a mecanismos de apoio a ações de REDD, que seriam vinculadas à ação dos governos nacionais no que diz respeito à identificação e medidas contra os "motores" do desmatamento. De acordo com representantes das ONGs, a inclusão da degradação foi uma concessão aos países da África, já que isso abre a possibilidade de obter ajuda financeira para a preservação das florestas. O negociador-chefe da delegação brasileira em Bali, embaixador Everton Vargas, concorda com a avaliação das ONGs de que o Brasil será pouco afetado. "Para o Brasil, não vai fazer grande diferença, nós não dependemos desse tipo de dinheiro. Para alguns países US$ 100 mil é muito, para nós é uma gota no oceano", disse Vargas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.