02 de março de 2009 | 14h15
O papa Bento XVI sofreu mais um revés constrangedor nesta segunda-feira, 2, quando foi forçado a cancelar a promoção de um padre austríaco conservador cuja nomeação a bispo havia polarizado a Igreja Católica. Veja também: Nomeação de sacerdote provoca polêmica na Áustria O Vaticano disse que o papa eximiu o padre Gerhard Maria Wagner da obrigação, pelas leis da Igreja, de aceitar sua promoção a bispo. Na prática, Bento revogou a nomeação de Wagner, que no mês passado desencadeou críticas na Áustria e fora do país. É inusitado na Igreja que o papa seja forçado a revogar a nomeação de um bispo. O caso voltou a chamar a atenção para o processo de exame de candidatos feito pelo Vaticano e as consultas com a Igreja, que, segundo críticos, são insuficientes. O constrangimento do papa com a nomeação de Wagner como bispo auxiliar de Linz se deu em meio a uma crise em curso sobre seu estilo de governança, que, segundo críticos, é demasiado isolado. Em janeiro, o papa provocou furor ao revogar a excomunhão de quatro bispos tradicionalistas, incluindo Richard Williamson, que negou o Holocausto. Vários funcionários do Vaticano se queixaram de não ter sido consultados. Críticos atacam Wagner por várias declarações que ele deu no passado, incluindo uma em que ele disse que o furacão Katrina, de 2005, foi a maneira usada por Deus para castigar a cidade de Nova Orleans por seus pecados. Wagner tachou os livros de Harry Potter de satânicos, disse que a homossexualidade é curável, se negou a permitir a entrada de sacerdotes mulheres em sua igreja e excluiu a participação de leigos em assuntos da Igreja. Pouco após sua nomeação a bispo, 31 dos 39 decanos (padres seniores) da diocese de Linz apresentaram uma declaração de não confiança nele - um fato raro na Igreja Católica e, na prática, uma manifestação aberta contra a decisão do papa. Líderes da igreja na Áustria disseram que a decisão de nomear Wagner como bispo foi tomada sem consultas prévias. No mês passado, o próprio Wagner pedira ao papa que revogasse a promoção devido ao que qualificou de "resistência implacável" contra ele, e para o bem da igreja. Diante do número crescente de católicos austríacos que estavam abandonando a igreja, e dos protestos entre o clero, o cardeal de Viena, Christoph Schoenborn, foi obrigado a convocar uma reunião de emergência dos bispos austríacos para superar a crise de confiança com o Vaticano. Os casos de Williamson e Wagner suscitam o receio de que o papa venha agindo isoladamente e a igreja venha seguindo um rumo cada vez mais conservador. O Vaticano vem procurando minimizar os danos desde o final de janeiro, quando o caso Williamson veio à tona. O papa vem recebendo críticas fortes especialmente da Áustria e da Alemanha, seu país de origem. Em entrevista que foi ao ar em 21 de janeiro, Williamson disse à TV sueca que acredita que não houve câmaras de gás e que não mais de 300 mil judeus morreram nos campos de concentração nazistas, em lugar dos 6 milhões estimados pela maioria dos historiadores. Entre os que condenaram Williamson e a decisão do papa estavam sobreviventes do Holocausto, católicos progressistas, parlamentares dos EUA, o Rabinato Chefe de Israel, líderes da comunidade judaica alemã e o escritor Elie Wiesel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.
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