Para ongs, militares não são maior ameaça aos índios

Entidades que trabalham com ianomâmis vêem exagero em matéria do The New York Times sobre presença militar em terras indígenas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Ameaças ao bem-estar físico e social dos índios ianomâmis, que moram na região de fronteira do Brasil com a Venezuela, na Amazônia, não se restringem à presença de militares, mas de todas as pessoas de fora que transitam na área indígena, principalmente garimpeiros. A informação é o médico Cláudio Esteves de Oliveira, presidente da Urihi Saúde Yanomami, organização não-governamental que, em convênio com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), presta atendimento a cerca de 6,8 mil índios, 52% dos ianomâmis no Brasil. O comentário refere-se à reportagem publicada ontem no The New York Times (realizada em Roraima e assinada por Larry Rohter), buscando mostrar que a sobrevivência dos ianomâmis está ameaçada pelos militares na região. Segundo a matéria, com o aumento da presença das Forças Armadas brasileiras nas terras indígenas, os soldados estão mantendo relações sexuais com mulheres ianomâmis, engravidando-as e disseminando doenças venéreas. ?Existem problemas relativos à relacionamentos sexuais com índios em todas as instituições autorizadas a desenvolver atividades na área indígena, sejam militares, funcionários públicos da área de saúde e da Funai, organizações não-governamentais e até missões religiosas. Todas têm ou tiveram casos nesse sentido e os índios se queixam que essas relações desestabilizam sua estrutura interna?, diz o médico. ?Por isso todas elas devem tomar cuidado em relação aos seus funcionários, pois não acredito que haja proteção nestas relações, já que os nível de conhecimento e consciência dos índios sobre doenças sexualmente transmissíveis é muito baixo, tornando-os vulneráveis às doenças venéreas e até à Aids?. Para Oliveira, porém, as maiores ameaças não estão nas instituições oficiais, mas nos garimpeiros (entre 400 e 800, segundo estimativas da Funai), que estão tendo relações sexuais, distribuindo munição e estimulando conflitos entre as aldeias ianomâmis. ?Atualmente, com o início do monitoramento do Sivam, a Funai e a Polícia Federal conseguem controlar a entrada dos invasores na área, mas faltam os meios materiais para combater o problema?. Fernando Bittencourt, da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), diz que há relatos dos índios de abusos em Surucucu, como índias aliciadas por comida. ?Mas não dá para contestar a presença de militares na área e sim tomar medidas necessárias para coibir esse tipo de abuso. Apoiamos a preocupação dos ianomâmis e confiamos na sensibilidade dos militares para que dialoguem com os índios. Mas não podemos confundir o papel das Forças Armadas em geral com o comportamento de um indivíduo em um pelotão?. Para os ativistas da CCPY, a matéria do The New York Times é ideológica e cheia de preconceitos, inclusive com os ianomâmis, ao chamá-los de ?índios da Idade da Pedra?. Além disso, lembra o presidente da Urihi, também existem progressos no tratamento dispensado aos índios. Conhecidos internacionalmente, nos anos 80, por conta da epidemia de malária provocada pela invasão garimpeira em suas terras, os ianomâmis tiveram, nos anos 90, a organização de um sistema de saúde para controlar a doença. ?Nos últimos três anos, um grande esforço do governo e das ongs conseguiu reduzir em 93% a incidência de malária, um feito inédito entre as populações amazônicas. A Urihi, que atende metade da população ianomâmi no Brasil, passou de mais de 500 casos de malária por mês para uma média de quatro casos mensais da doença?, conta Oliveira.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.