Partes de HIV e ebola no tratamento de fibrose cística

Mecanismos dos vírus são usados para transportar gene saudável ao pulmão e a células em outros órgãos doentes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Terapia genética usando elementos dos vírus ebola e HIV pode curar a fibrose cística, segundo um estudo apresentado por cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Em 1989 foi descoberto que a doença é causada por uma falha genética e, desde então, cientistas tentam descobrir uma forma de transportar uma cópia saudável do mesmo gene para o organismo, para que ele substitua os defeituosos. Uma das dificuldades, no entanto, era fazer com que os genes saudáveis chegassem aos pulmões, um dos órgãos mais afetados pela fibrose cística, o que é difícil porque os pulmões tendem a rejeitar substâncias estranhas. Um mecanismo do vírus do ebola foi usado para o transporte do gene saudável, já que esse vírus atinge principalmente o pulmão. No caso do HIV, um mecanismo do vírus foi usado para implantar os genes nas células. Segundo o estudo publicado na revista New Scientist, testes realizados em macacos mostraram que o método é eficaz. Cura A fibrose cística - que afeta principalmente o pulmão e o pâncreas, entupindo os orgãos com muco - é a mais comum das doenças genéticas graves, segundo o Ministério da Saúde, e não tem cura conhecida. Estima-se que cerca de 1,5 mil pessoas sofram da doença no Brasil, que tem maior incidência sobre a população branca, seguida da população negra e da asiática. Os pesquisadores americanos, liderados pelo médico Gary Kobinger, combinaram um proteína da superfície do vírus ebola, que afeta as células pulmonares, com parte do vírus HIV. Uma cópia de um gene saudável que pode corrigir a falha que provoca a fibrose cística foi incluída entre os elementos dos dois vírus. Testes iniciais mostraram que o vírus híbrido é extremamente eficiente. Em camundongos, o gene saudável carregado pelo vírus estava ativo em 24% das células do sistema respiratório apenas dois meses depois de ter sido inserido. Em macacos, o gene esta ativo em 21% das células depois de dois meses. Sem contaminação Os elementos dos vírus HIV e ebola usados na terapia não provocam a contaminação, já que o vírus híbrido não tem os componentes que o permitem reproduzir-se dentro do organismo. Segundo os cientistas, no entanto, se o vírus híbrido chegar à corrente sanguínea - o ambiente onde o vírus normal do HIV geralmente vive - ele não se reproduziria de maneira tão eficiente como o vírus normal, mas o paciente pode sentir alguns efeitos. O maior risco é que se o paciente for contaminado pelo HIV, uma nova combinação poderia ser criada com o vírus original do HIV se fundindo com o vírus híbrido. Caso isso aconteça, as conseqüências são imprevisíveis, mas uma recombinação a partir do vírus HIV nunca foi observada.

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