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Oceanos poluídos por plástico ameaçam peixes, diz estudo

De acordo com cientistas da Suécia, larvas que se desenvolvem em meio com partículas de microplástico passam comê-las, ignorando o alimento natural; animais apresentam problemas de crescimento

Por Fabio de Castro
Atualização:

Cientistas da Universidade de Uppsala, na Suécia, descobriram que a exposição de larvas de peixes a partículas de microplástico apresentam problemas de crescimento, mudanças de comportamento e alta taxa de mortalidade. Segundo os autores, as larvas que têm acesso a partículas de microplástico durante o período de desenvolvimento passaram a comê-las, ignorando seu alimento natural de zooplâncton.

São consideradas partículas de microplástico os fragmentos de menos de cinco milímetros, produzidos pelo efeito de desintegração das toneladas de objetos de plástico jogadas constantemente nos oceanos e submetidas à ação das ondas e da química marinha. O estudo, feito com percas (Perca fluviatilis) - um peixe comum na Europa - foi publicado hoje na revista Science.

De acordo com cientistas da Suécia, larvas que se desenvolvem em meio com partículas de microplástico passam comê-las, ignorando o alimento natural, o que causa problemas de crescimento e altas taxas de mortalidade; na foto, percas (Perca fluviatilis) no Mar Báltico Foto: Oona Lönnstedt

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Segundo os autores do estudo, embora já se soubesse que as partículas de microplástico poderiam afetar os ecossistemas marinhos, a pesquisa mostra pela primeira vez que o desenvolvimento dos peixes é ameaçado por esse tipo de poluição.

"Peixes criados em diferentes concentrações de partículas de microplástico reduziram as taxas de eclosão e apresentaram comportamentos anormais. Os níveis de partículas microplástico testadas no estudo são semelhantes aos encontrados em muitos habitats costeiros na Suécia e em outros lugares no mundo", diz a bióloga marinha Oona Lönnstedt, autora principal do artigo.

As larvas expostas a concentrações ambientalmente relevantes de micropartículas de poliestireno apresentaram atrofia no crescimento, segundo o estudo. Os autores descobriram que a atrofia está relacionada às preferências alimentares das larvas , que passaram a comear apenas as partículas de microplástico, ignorando o zooplâncton.

"Essa é a primeira vez que se descobre que um animal pode ter preferência por se alimentar de partículas de plástico e isso é muito preocupante", afirmou Peter Eklöv, coautor do estudo.

Segundo Oona, as larvas expostas às partículas de microplástico durante o desenvolvimento também apresentaram mudanças de comportamento, mostrando-se muito menos ativas que os peixes criados em ambientes que não continham partículas de microplástico.

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"Além disso, os peixes expostos às partículas de microplásticos ignoram o cheiro dos predadores que normalmente evoca comportamentos antipredadores inatos em peixesque vivem na natureza", afirmou Oona.

Vulnerável. A ausência da resposta antipredadores tornou as larvas mais vulneráveis, segundo o estudo. Quando os viveiros de peixes eram expostos a predadores naturais, , os que haviam sido expostos às partículas de microplástico eram capturados e devorados quatro vezes mais rápido que os peixes não expostos. Todos os peixes expostos às partículas de microplástico morreram em um intervalo de 48 horas.

De acordo com os autores do estudo, se essa resposta das larvas se traduz em taxas de mortalidade mais altas, como um resultado do aumento do risco de predação na natureza, a exposição à poluição plástica pode ter consequências diretas no reabastecimento e na sustentabilidade das populações de peixes.

"O aumento da poluição de microplástico no Mar Báltico e o rápido declínio de espécies costeiras fundamentais foram observados recentemente. Nosso estudo sugere que a poluição de microplástico é um fator potencial de aumento da mortalidade de peixes", disse Eklöv.

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