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Pesca sustentável tem maior produtividade na Amazônia

Pesquisa mostra que acordos de pesca, realizados por comunidades ribeirinhas de Santarém, permitem a manutenção dos estoques e o aumento da produtividade

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Amazônicas (Ipam) e WWF-Brasil, na região de Santarém, no Pará, mostra que a pesca sustentável na Amazônia tem 60% mais produtividade do que a convencional. As boas práticas de manejo estão relacionadas, principalmente, a acordos comunitários para ordenar a atividades pesqueira de forma a garantir peixe para todos os pescadores o ano inteiro. Segundo Antonio Oviedo, coordenador da Ecorregião Rio Amazonas e Áreas Inundáveis do WWF-Brasil, a pesquisa, que acaba de ser concluída, já resultou em seis artigos científicos sobre a situação da pesca amazônica e o potencial pesqueiro da região. O trabalho mostra que, nos últimos dez anos, a quantidade de peixe desembarcada nos portos tem se mantido estável, apesar do aumento do número de barcos e equipamentos. ?Isso significa um estoque pesqueiro estável. No entanto, temos indícios de sobreexploração de algumas espécies, como o tambaqui e o pirarucu, que já estão sendo pescados em tamanhos considerados pequenos para as espécies?, diz. Parte do Projeto Várzea, a pesquisa entrevistou, nos últimos três anos, 259 famílias de 18 comunidades de ribeirinhos - nove que possuem acordos de pesca e nove sem acordos. O resultado mostrou que a produtividade média nas áreas manejadas chega a 41 quilos de peixe por hectare, enquanto nas áreas sem manejo cai para 26 quilos. Os acordos são elaborados em reuniões dos representantes de todas as comunidades que utilizam o mesmo sistema de lagos e estabelecem as regras para a atividade. Redes de malhas finas, que pegam os filhotes, não costumam ser permitidas e, em alguns lagos, só é permitida a pesca durante certa parte do ano, deixando períodos reservados para reprodução. Ao longo dos rios Solimões e Amazonas, durante o período da cheia (dezembro a julho), as águas sobem até 20 metros e inundam as margens por uma extensão de até 100 Km de cada lado, formando os lagos de pesca. Na seca, alguns lagos desaparecem e outros ficam isolados, sem canais de conexão com o rio. ?Esses acordos têm sido possíveis em comunidades mais organizadas da região de Santarém e na reserva de Mamirauá, em Tefé, no Amazonas?, diz Oviedo. Reconhecidos pelo Ibama há três anos, os acordos parecem estar sendo muito importantes para o aumento de produtividade e manutenção dos estoques, em comunidades como as dos lagos da Ilha de São Miguel e Ilha de Ituqui, Lago Grande e região de Arapixuna, próximas à Santarém. Para o coordenador do WWF, ?os acordos de pesca são um modelo que deu certo e o Ibama deve aproveitar a experiência para fazer a instrução normativa que regulamenta esse tipo de experiência para toda a Amazônia?. Segundo a economista Oriana Almeida, do Ipam, ?entre 20 e 50% do estoque de peixes está sendo explorado na região, o que mostra a viabilidade de aumentar a atividade pesqueira, desde que sejam respeitadas as espécies ameaçadas e seja feito um manejo sustentável?.

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