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Pesquisa abre caminho para embrião sem óvulo

Cientistas conseguiram fazer camundongos se reproduzirem com a injeção de espermatozoides em células com taxa de sucesso de 24%

Por Fabio de Castro
Atualização:
Cientistas desenvolveram método para injetar espermatozoides nem pseudo-embriões de camundongos Foto: Tony Perry - Universidade de Bath

Cientistas conseguiram pela primeira vez, com uma nova técnica, fazer camundongos se reproduzirem injetando espermatozoides em uma célula que não é um óvulo. 

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Segundo os autores da pesquisa, publicada nesta quarta-feira, 14, na revista Nature Communications, os resultados sugerem que a maturação do espermatozoide, ao contrário do que se pensava, pode prescindir de um óvulo. Eles alertam, no entanto, que a técnica ainda está muito distante de ter qualquer aplicação para embriões humanos.

A pesquisa foi coordenada por Tony Perry, da Universidade de Bath, no Reino Unido, e também teve participação de cientistas da Universidade de Regensburg, na Alemanha. 

De acordo com Perry, já se sabia que os ovócitos - os gametas femininos que ainda não foram fecundados e transformados em óvulos - podem ser “enganados” para se desenvolver, transformando-se em um embrião sem fertilização. Mas esses pseudoembriões resultantes do processo, chamados de partenogenotes, morrem em alguns dias, já que processos fundamentais de desenvolvimento, que exigem a presença do espermatozoide, não ocorrem.

O grupo de cientistas, porém, conseguiu desenvolver um método para injetar espermatozoides nos pseudoembriões de camundongos, permitindo que eles se desenvolvessem e produzissem filhotes com uma taxa de sucesso superior a 24%. 

Esses pseudoembriões foram produzidos artificialmente, a partir de um ovócito que foi estimulado quimicamente para iniciar o processo de divisão celular sem a intervenção dos espermatozoides.

“Nosso trabalho desafia o dogma de que apenas um óvulo fertilizado com espermatozoides pode resultar no nascimento de um mamífero vivo, que foi estabelecido quando embriologistas pioneiros observaram os ovócitos de mamíferos pela primeira vez, em 1827, e observaram a fertilização, 50 anos depois”, afirmou Perry.

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Segundo o cientista, os resultados do estudo sugerem que, em um futuro distante, poderia ser possível gerar animais utilizando espermatozoides e células que não são óvulos, como células da pele, por exemplo. “Embora isso ainda seja apenas uma ideia, poderia ter potenciais aplicações no futuro para tratamentos de fertilidade humana e para a reprodução de espécies ameaçadas”, disse Perry.

Os camundongos nascidos com a técnica parecem totalmente saudáveis, segundo Perry, mas seu DNA tem marcas epigenéticas diferentes das que ocorrem na fertilização normal. As marcas epigenéticas são padrões de ativação e desativação de determinados genes.

Interesse científico. De acordo com a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo (USP), a importância do estudo consiste em avançar o conhecimento sobre os processos de fertilização. 

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“Por enquanto não há nenhuma perspectiva de qualquer aplicação em humanos. Mas o estudo é interessante para os cientistas porque permite analisar o que acontece com as marcas epigenéticas quando se faz um experimento como esse, possibilitando aprofundar nosso entendimento sobre o complexo processo de fertilização”, disse Mayana ao Estado.

Ela afirma, no entanto, que o estudo não abre nenhuma perspectiva para aplicações como a reprodução humana sem a participação de mulheres, por exemplo. “As conclusões do estudo não têm nada a ver com esse tipo de especulação. O que há de relevante no estudo é que ele contesta a ideia de que um espermatozoide só poderia amadurecer dentro de um óvulo”, disse Mayana.

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