Pesquisa feita nos EUA diz que núcleo da neve contém bactérias

Estudo aponta que 85% das amostras de neve retiradas da Antártida, França, EUA e Canadá, tem bactérias

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Por Associated Press
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A maior parte da neve se forma em condições geladas nas alturas, e cientistas que estudam a atmosfera sabem há tempos que, na maior parte das vezes, a umidade precisar de algo em que se prender para poder condensar. E uma pesquisa feita por pesquisadores da Louisiana State University, divulgada nesta sexta-feira, 29, pelo jornal Science, aponta que os belos flocos de neve que caem do céu podem ter bactérias em seu interior. Este novo estudo mostra, de maneira surpreendente, que grande parte dos chamados "nucleators" revelam-se bactérias que podem afetar as plantas. "As bactérias são de longe os mais ativos núcleos de gelo na natureza", disse Brent C. Christner, um professor assistente de ciências biológicas da universidade. Com amostras de neve retiradas da Antártida, França, Montana, nos Estados Unidos, e Yukon, no Canadá, Christner e seus colegas descobriram que, em sua maioria, 85% dos núcleos dos flocos eram bactérias. A bactéria foi mais comum em amostras da França, seguida por Montana e Yukon, e foi encontrada em menor grau na Antártida. A bactéria mais encontrada nos flocos foi a Pseudomonas Syringae, que pode causar doenças em vários tipos de vegetais, como o tomate e o feijão. O estudo encontrou bactérias em 20 amostras de neve ao redor do mundo e, em pesquisa subseqüente, também as achou nas chuvas de verão do Estado norte-americano da Louisiana. No passado, tentaram eliminar o foco de Pseudomonas, informou Christner. Mas agora que ela voltou - por ser um fator importante na formação de neve e chuva - ele se pergunta se isso é uma boa idéia. A eliminação desta bactéria resultaria em menos chuva ou neve, ou os núcleos seriam substituídos por outros, como a fuligem e pó? "A questão é, essas bactérias são boas ou ruins", questionou o professor, "e eu não tenho a resposta disso". O que está claro é que a Pseudomonas é eficaz na obtenção de umidade em uma nuvem para condensar, ele salientou. Bactérias mortas são ainda usadas como um aditivo na formação de neve em estações de ski. O que levanta a questão de introduzir culturas conhecidas por serem infectadas por Pseudomonas nas zonas secas afetadas, é que pode ajudar a aumentar a precipitação naquela região, adicionando mais núcleos para a atmosfera, afirmou Christner. Ficou conhecido que micróbios, insetos e algas enchem a atmosfera, acrescentou Christner , "mas a atmosfera não tinha sido reconhecida como um lugar onde há coisas ativas. Isso mudou na última década. Numa nuvem você tem água, carbono orgânico", e todos os elementos necessários para apoiar um microorganismo. Virginia K. Walker, bióloga da Queen's University, em Ontario, Canadá, disse que outros estudiosos encontraram bactérias atuando como núcleo da neve, mas não tinham identificado como a Pseudomonas. "É uma dessas grandes bactérias... você pode encontrá-las em qualquer lugar", contou Walker, que não fez parte da equipe de pesquisas. "Elas são realmente interessantes", acrescentou. Charles Knight, um físico do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, especialista em nuvens, não ficou surpreso com a descoberta, no entanto. Em temperaturas relativamente quentes, apenas alguns graus abaixo do estado de congelamento, as bactérias são "extraordinariamente eficazes" para atrair a formação de gelo, disse Knight, que também não participou do grupo de pesquisas. O estudo foi apoiado por uma concessão da Louisiana State University Research. Níveis de poeira no Pacífico Em um segundo documento publicado on-line pela Science, os pesquisadores relatam que a quantidade de poeira levada para a região tropical do oceano Pacífico, durante o último meio milhão de anos, variou largamente entre períodos quentes e frios. A poeira também causa importantes impactos sobre clima, variando de atuação como núcleos de chuva, para bloquear a chegada de algumas radiações do sol, e ainda fornece minerais como o ferro, que aumentam o crescimento do plâncton em áreas oceânicas. Núcleos de sedimentos do leito oceânico foram levados para outros locais em todo o oceano Pacífico tropical, com uma duração de 500 mil anos. Pesquisadores liderados por Gisela Winckler, do Lamont-Doherty Earth Observatory da Columbia University, descobriram que poeiras depositadas no oceano atingiam o pico durante períodos frios e era menos intensos durante épocas quentes. Usando isótopos, os cientistas rastrearam a poeira do lado ocidental até a Ásia e do lado oriental até a América do Sul. Eles dizem que as razões para as mudanças são complexas, mas, em geral, tendem a ser tempestuosas em períodos frios, significado que mais poeira é levada nessa época. Eles descobriram que picos de frio ocorreram a cada 100 mil anos, com o último há 20 mil anos. A pesquisa foi apoiada pela National Science Foundation e pelo Earth Institute at Columbia University.

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