Pesquisa mostra avanço na gestão ambiental brasileira

Publicação do ISER mostra que, para líderes de vários setores do País, houve uma ?ambientalização da sociedade brasileira? na última década

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil avançou muito na área de meio ambiente na última década e caminha para um franco processo de ?ambientalização da sociedade?. Essa é uma das principais conclusões da pesquisa ?O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável?, que o Instituto de Estudos da Religião (Iser) divulga hoje, no Rio de Janeiro. Coordenado por Samira Crespo, do Programa de Meio Ambiente e Desenvolvimento do ISER, a publicação é uma parceria com os Ministérios do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia e traz uma análise qualitativa de entrevistas realizadas com 105 líderes de seis setores: parlamentares, empresários, gestores governamentais, cientistas, e dirigentes de entidades de defesa do meio ambiente e dos movimentos sociais mais importantes. Realizada a cada quatro anos para acompanhar a evolução da consciência ambiental no País, a pesquisa mostra que o conceito de desenvolvimento sustentável - visto com desconfiança, em 1992, e conceito-âncora do discurso ambientalista, em 1997 - agora é acompanhado por mais dois jargões, que são as parcerias e o socioambientalismo. Este último conceito, segundo a coordenadora, é uma criação do movimento ambiental brasileiro, que surgiu como uma maneira de identificar os movimentos, programas e ações que passaram a assumir a idéia de que desenvolvimento sustentável só é efetivo, quando a dimensão social é contemplada tanto quando a ambiental. Por outro lado, os entrevistados acreditam que a visão otimista e produtiva da última década apresenta um certo esgotamento, associado aos relatórios internacionais mostrando que o Planeta não está sendo salvo e que o meio ambiente continua a ser impiedosamente degradado. Para os líderes entrevistados, embora seja um conceito a ser seguido, a Agenda 21 ?não pegou no nível nacional? e ?não saiu do papel?. A pesquisa mostra também que a união entre ambientalismo e movimento social parece viver sua primeira crise. ?Nossos ?verdes? estão chegando à conclusão de que vêm assumindo muito mais a pauta dos ativistas sociais do que vice-versa e que, politicamente falando, os ativistas sociais saíram mais fortalecidos da união. Nossos entrevistados avisam que uma reação está a caminho, e a proposta de se criar um instituto nacional de florestas é apenas o início?, diz Samyra. Pragmatismo Para os entrevistados, as mudanças ocorridas no ambientalismo brasileiro nos últimos dez anos, que se tornou mais pragmático e mais técnico, propiciou maior eficácia e maiores vitórias. No entanto, perdeu parte do ?glamour? e da carga utópica dos anos 90 e precisa enfrentar o fato de que virou parte do ?establishment?. São reconhecidos grandes avanços no sistema nacional de gestão ambiental, mas os resultados ainda são considerados muito aquém do desejado. Uma boa parte dos líderes ouvidos, sobretudo do setor dos movimentos sociais, continuam criticando especialmente o Ibama e apontando problemas, que vão desde a fiscalização deficitária até a permanência de supostos focos de corrupção. A maior evolução, no período, se deu no campo da legislação e da criação das agências reguladoras, em especial a Agência Nacional de Águas (ANA). Outra estrela do arcabouço legal é a Lei dos Crimes Ambientais, que teria mudado o patamar de intervenção, permitindo ao Ministério Público ter uma atuação destacada. De maneira geral, os seis setores consideram que ?o Brasil tem uma legislação avançada, perto da ideal, e que se os instrumentos legais hoje disponíveis forem usados em sua plenitude nos próximos dez anos, os avanços serão potencialmente ainda maiores?. Outro exemplo da modernização da gestão ambiental seria a mudança, ainda lenta, da ética do comando e controle para a ética dos compromissos voluntários e dos incentivos. A conjuntura internacional, principalmente depois dos atentados de 11 de setembro em Nova Iorque, trouxe um clima pessimista em relação a uma política classificada de ?anti-ambientalista? e ?isolacionaista? dos Estados Unidos, que se recusaram a ratificar o Protocolo de Kyoto. ?Um fato curioso ocorreu desde nosso último estudo, em 1997. Naquele período, somente os integrantes do movimento social se mostravam radicalmente anti-americanos, sentimento que, em 2002, se expande pelos demais setores. Segundo alguns dos entrevistados, os americanos hoje são inimigos dos ambientalistas?, disse Samyra. Conforme a pesquisa, o grande tema da próxima década será mudanças climáticas, que funcionará como um ?guarda-chuva? para as demais questões. No Brasil, as opiniões sobre as prioridades se dividem entre uma política mais efetiva para questões que envolvem a conservação da biodiversidade e a proteção de florestas, com destaque para a Amazônia e a Mata Atlântica, e a necessidade de se focar no problema do saneamento ambiental nas cidades, incluindo lixo, esgoto e acesso à água. O terceiro tema apontado como prioritário são os recursos hídricos.

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