Pesquisa mostra presença de mercúrio no mangue em Cubatão

Metal pesado foi encontrado em sedimentos coletados no manguezal próximo ao pólo industrial

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Por Agencia Estado
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Uma pesquisa da geóloga Luciana Ferrer, para tese de mestrado no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, constatou a presença de mercúrio nos sedimentos do mangue em Cubatão, na Baixada Santista, em São Paulo. As coletas, realizadas entre 1998 e 2000, mostraram concentrações de até 0,06 miligramas por litro do metal pesado, índice superior ao orientador adotado pela Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), de 0,05 miligramas por litro. A área estudada fica entre os rios Mogi e Cubatão e é limítrofe à área urbana da cidade e ao pólo industrial de Cubatão, próximo à Cosipa, à Carbocloro - empresa que desde 1964 utiliza células de mercúrio na produção de cloro-soda -, e ao aterro de Cubatão. ?Minha intenção inicial era colher as amostras dentro dos sítios das empresas, mas não consegui autorização. Assim, busquei áreas inundáveis, próximas às indústrias, e consegui autorização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente?, conta Luciana. Na área estudada, existe uma ocupação clandestina, com cerca de 30 casas, cujos moradores capturam carangueiros para consumo, plantam mandioca e as crianças nadam no local. ?Os índices encontrados são inferiores ao máximo permitido. O problema é que não existem fontes naturais de mercúrio na região e a alta concentração de matéria orgânica - característica típica de mangue - é o ambiente ideal para sua organificação e entrada na cadeia alimentar?, explica. Segundo Luciana, foram coletados sedimentos do manguezal, água subterrânea no lençol freático e água dos rios durante três anos, nos períodos secos, quando o mangue não está inundado. As análises químicas foram feitas pela própria geóloga e enviadas para conferência em laboratório. ?Encontrei mercúrio, em sua forma inorgânica, somente nos sedimentos. O trabalho não identifica a origem do metal, nem sua presença nos organismos vivos, quando é mais nocivo à saúde. Mas esse trabalho precisaria ser feito, já que há moradores no local?. Como todo metal pesado, o mercúrio degrada-se muito lentamente no meio ambiente, persistindo durante décadas no solo e no fundo do rios, lagoas e represas. Não é metabolizado pelos animais e sofre o processo de bioacumulação, afetando mais os animais do topo da cadeia alimentar, entre os quais está o homem. Entre os efeitos na saúde, pode afetar o sistema nervoso e cardiovascular, lesar o cérebro, causar paralisia, dormência nos lábios, perda de memória, dor de cabeça e distúrbios emocionais. A presença de mercúrio já foi constatada também em levantamentos da Cetesb. O órgão ambiental multou a Carbocloro pelo menos quatro vezes, entre 1989 e 1994, por eliminar no rio Cubatão efluentes com concentrações de mercúrio acima do limite permitido pela legislação. Um estudo realizado pelo médico Eládio Santos Filho, entre 1992 e 1993, com 200 crianças que vivam na margem do rio Cubatão, para a Secretaria Estadual de Saúde, constatou um teor duas vezes maior de mercúrio entre as que consumiam peixe do rio, do que nas que não comiam pescado. Contaminação do estuário Um levantamento da Cetesb sobre as condições ambientais do sistema estuarino de Santos, divulgado em agosto de 2001, indicou a presença de substâncias como metais pesados e ascarel nos sedimentos do estuário em concentrações que podem causar efeitos tóxicos aos organismos aquáticos. Embora o relatório apontasse que a quantidade de poluentes encontrada nos peixes não afeta a saúde da população, verificou-se, em organismos coletados, como ostras, mexilhões e siris, alguns grupos de contaminantes como PCBs, PAHs, dioxinas e furanos. A concentração nesses organismos estava acima dos critérios para consumo humano adotado pela agência ambiental norte-americana. Na ocasião, a Cetesb ficou de apresentar um plano de ação para a região, que incluiria a investigação dos efeitos da poluição na saúde da população e a determinação do quanto desses poluentes são referentes ao passivo ambiental ou a fontes atuais. Procurada pela Agência Estado, a assessoria de imprensa da Secretaria do Meio Ambiente não soube informar, até o final da tarde, se esse plano foi implementado ou não.

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