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Pesquisa mostra que febre ameniza temporariamente o autismo

Por MICHAEL CONLON
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A febre pode libertar temporariamente a criança do efeito do autismo, uma descoberta que pode esclarecer as raízes do problema e talvez até fornecer pistas para o tratamento, afirmaram pesquisadores na segunda-feira. Ao que parece, a febre restaura comunicações celulares nervosas em áreas do cérebro do autista, recuperando por algum tempo a capacidade da criança de interagir e socializar, disse o estudo. "Os resultados desse estudo são importantes porque eles mostram que o cérebro autista é flexível, capaz de alterar as conexões atuais e formar conexões novas em resposta a experiências ou condições diferentes", disse Andrew Zimmerman, neurologista pediátrico do Instituto Kennedy Krieger, de Baltimore, que foi um dos autores do trabalho. O estudo, publicado na revista Pediatrics, baseou-se em 30 crianças autistas entre 2 e 18 anos, que foram observadas durante ou depois de uma febre de pelo menos 38 graus Celsius. Mais de 80 por cento das crianças com febre mostraram melhora no comportamento, e em 30 por cento a melhora foi drástica, disseram os pesquisadores. Entre as mudanças estavam períodos mais longos de atenção, mais fala, mais contato visual e relações melhores com adultos e outras crianças. A equipe de Zimmerman disse que o efeito da febre já tinha sido observado informalmente por pacientes e médicos. Lee Grossman, presidente e executivo-chefe da Sociedade de Autismo dos Estados Unidos, contou ter notado o fenômeno com seu próprio filho, que hoje tem 20 anos. Mas ele afirmou numa entrevista que os autores do estudo disseram que ainda é preciso pesquisar mais para entender o efeito da febre e suas implicações. "É bom que eles tenham percebido isso e estejam levando a questão adiante", disse ele. Os portadores de transtornos do espectro do autismo sofrem de limitações em graus variados nas suas interações sociais, além de problemas na comunicação verbal e não verbal. Pelo menos 1,5 milhão de norte-americanos possuem alguma forma de autismo, de acordo com a ASA. Não se sabe o que causa o problema. Segundo Zimmerman, embora não exista hoje um tratamento definitivo, terapias fonoaudiológicas e de linguagem, iniciadas o quanto antes, "podem fazer uma diferença significativa". Para ele, a pesquisa sobre a febre, chefiada por Laura Curran, é uma "pista animadora" que pode ajudar a indicar caminhos para um tratamento que refaça as conexões no cérebro autista. De acordo com ele, acredita-se que o efeito da febre só aconteça em crianças, porque seus cérebros são mais "plásticos" que os dos adultos.

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