Pesquisadores criam 1º embrião híbrido britânico

Equipe inseriu DNA humano em um óvulo bovino e pretende retirar células-tronco.

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Por Fergus Walsh
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Uma equipe de cientistas da Universidade de Newcastle, na Grã-Bretanha, foi a primeira do país a criar um embrião híbrido depois que o processo foi aprovado, no ano passado, pelo órgão que regula o setor no país. Os pesquisadores inseriram material genético retirado de células humanas no óvulo de uma vaca cujo material genético havia sido previamente removido. Os embriões sobreviveram até três dias e fazem parte de uma pesquisa que pretende retirar as células-tronco para utilizá-las na pesquisa sobre doenças conhecidas por suas causas genéticas, como o mal de Parkinson. Segundo John Burn, da equipe responsável pela pesquisa, o próximo passo é fazer com que os embriões sobrevivam pelo menos seis dias - período necessário para a formação das células-tronco. De acordo com Burn, há necessidade de usar óvulos bovinos já que os humanos estariam em falta com freqüência nas clínicas e nem sempre são de boa qualidade para as pesquisas. Burn ressalta ainda que os embriões híbridos serão utilizados apenas na pesquisa e sua sobrevivência não será permitida além de 14 dias, quando ainda são do tamanho de uma cabeça de alfinete. Permissão A criação dos embriões híbridos foi autorizada pela Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (HFEA, na sigla em inglês) em setembro de 2007. Antes da permissão (que se aplica apenas à equipe de Newcastle e a uma outra do King's College, de Londres), os cientistas podiam usar apenas óvulos humanos deixados em clínicas, sobras de tratamentos de fertilização. O processo de criação dos embriões híbridos provocou reações calorosas de várias instituições no Reino Unido. A Igreja Católica, por exemplo, classificou o processo como monstruoso e imoral. Um cardeal chegou a chamar a pesquisa de "experimentos ao estilo Frankenstein". Apesar das críticas, a equipe de pesquisadores argumenta que o trabalho é totalmente ético. "O trabalho é licenciado e foi avaliado com atenção", afirmou Burn. "Trata-se de um processo de laboratório e estamos lidando com células que jamais irão se desenvolver, e esses embriões nunca serão implantados em ninguém." Legislação A autorização do órgão regulador precede a votação de uma lei no Parlamento britânico, agendada para o próximo mês, que vai decidir se a criação dos embriões híbridos para fins de pesquisa será ou não permitida no país. O projeto de lei para a nova legislação é considerado extremamente polêmico. Na semana passada, o primeiro-ministro Gordon Brown permitiu liberdade de voto aos parlamentares no caso. "É difícil imaginar uma lei que ataque de forma tão acentuada a santidade e a dignidade da vida humana como esta em particular", disse o cardeal Keith O'Brien, arcebispo de St. Andrews e Edimburgo, na semana passada. Esta não é a primeira vez que os desenvolvimentos científicos precederam as discussões legislativas na Grã-Bretanha. Para os defensores da pesquisa com embriões, a pesquisa é um passo pequeno, mas importante. Para os oponentes, é um passo que vai longe demais. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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