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Pesquisadores isolam bactéria resistente a todas as drogas

A bactéria é a Pseudomonas aeruginosa, segunda causa de infecção hospitalar no País

Por Agencia Estado
Atualização:

No ano passado, uma criança com leucemia internada no Hospital São Paulo teve uma infecção urinária de difícil controle. Mesmo com doses altas da medicação correta, a bactéria causadora da doença conseguiu avançar, provocando a morte da paciente. Meses depois, pesquisadores descobriram por que o tratamento havia sido ineficaz. A bactéria responsável pela infecção, Pseudomonas aeruginosa (P. aeruginosa), carregava uma mutação que a tornava resistente a todas as drogas. Não é a primeira vez que bactérias com essas características são encontradas. Capacidade de autoproteção Esporadicamente, novos registros de microorganismos que não respondem a antibióticos são feitos, causando grande alvoroço entre infectologistas. Mas, no caso da pseudomona encontrada no Hospital São Paulo, a inquietação foi ainda maior. Além de uma capacidade de se proteger nunca vista, a P. aeruginosa analisada poderia repassar a outros tipos de bactérias a sua tática de proteção. "É uma notícia preocupante", admite o diretor do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica da Universidade Federal de São Paulo, Hélio Sader. Dá para entender a apreensão. É como se as posições de defesa de um território estivessem prestes a serem reveladas para diferentes grupos de pretensos invasores. Infecção hospitalar A P. aeruginosa é a segunda causa de infecção hospitalar no País. Encontrada no meio ambiente, ela torna-se um risco para a saúde apenas entre pacientes debilitados ou que estejam em ambientes onde haja grande uso de antibióticos. Na maioria dos pacientes, o uso do antimicrobiano carbatenem sozinho ou acompanhado de outros medicamentos é suficiente para controlar a infecção. Mas, como já ocorreu com outras bactérias (como estafilococos ou enterococos), algumas cepas da pseudomona foram desenvolvendo, ao longo dos anos, proteção ao ataque dos antibióticos. Isso é causado principalmente pelo uso indiscriminado do medicamento. Enzima "De tanto ser bombardeadas por doses menores do que o adequado, as bactérias aprendem com o tempo a se defender", diz Sader. Pseudomonas resistentes a carbatenem já foram isoladas anteriormente, porém nesse caso se trata de um mecanismo nunca antes descrito. A resistência da pseudomona isolada pela equipe de Sader é fruto da ação mais potente de uma enzima, a betalactamase, que se encarrega de destruir os antibióticos assim que eles entram na bactéria. Mutação Esse reforço da enzima, por sua vez, é resultado de uma mutação genética, cuja receita fica armazenada no plasmídio, uma estrutura presente no citoplasma da bactéria. O plasmídio é capaz de fazer cópias desse material e transferi-las para outras espécies de bactérias. "Funciona como uma cópia em disquete, que é passada para outro computador", compara. Sader afirma que não há como prever onde e quando irá aparecer uma cepa semelhante a que seu grupo isolou. "Aqui no hospital vamos ficar atentos, pois, caso ela seja detectada novamente, uma série de medidas de controle têm de ser adotadas." A descoberta da equipe da Unifesp será divulgada na revista científica Antimicrobial Agents and Chimiotherapy. "Comunicamos o achado apenas informalmente a profissionais de outras instituições", diz. No País, não há um serviço de notiticação sistematizado para acompanhar o aparecimento de bactérias resistentes. Um grupo estuda a formação de serviço com essa função.

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