Pessimismo é fator de risco para doença do coração, diz estudo

Pesquisa realizada na Finlândia revela que pensamento em relação ao futuro pode impactar em doença coronariana

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Doença coronariana resulta da formação de placas de tecido fibroso e gordura que crescem e se acumulam na parede dos vasos sanguíneos Foto: Divulgação

Os principais fatores de risco para a doença coronariana - a mais comum das doenças do coração - incluem o fumo, a pressão alta, o colesterol elevado, o diabetes e agora, de acordo com um novo estudo, o pessimismo.

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Segundo a nova pesquisa, realizada por cientistas da Finlândia e publicada nesta quarta-feira, 16, na revista científica BMC Public Health, o pessimismo é um importante fator de risco de morte pordoenças coronarianas. O otimismo, porém, não reduz os riscos desse problema de saúde.

De acordo com a Sociedade Americana de Cardiologia, a doença coronariana é resultado da formação de placas de tecido fibroso e colesterol (arteriosclerose) que crescem e se acumulam na parede dos vasos sanguíneos, dificultando ou bloqueando a passagem do sangue e levando a problemas como angina e enfarte agudo no miocárdio.

Em 50% dos casos, o enfarte é a primeira manifestação da doença coronária, de acordo com o Ministério da Saúde. No último levantamento realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2014, com base em dados de seu departamento de informática (Datasus), o infarto agudo no miocárdio é a primeira causa de mortes no Brasil: cerca de 100 mil por ano. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A pesquisa envolveu 2.267 homens e mulheres de idades entre 52 e 7 anos, que foram acompanhadas ao longo de 11 anos, na Finlândia. O acompanhamento incluía dados sobre níveis de glicose no sangue, pressão sanguínea, uso de drogas contra hipertensão ou diabetes, diagnósticos de doença coronariana, além de dados socioeconômicos, histórico psicossocial e informações sobre o estilo de vida.

De acordo com os pesquisadores, os questionários apresentados aos pacientes identificam com precisão quem poderia ser considerado otimista ou pessimista. Na definição dos cientistas, otimismo e pessimismo são definidos como a atitude de uma pessoa em relação a seu futuro, considerando se, de maneira geral, ela espera por um número maior de acontecimentos desejáveis ou indesejáveis.

Dos mais de dois mil pacientes avaliados, os 121 que morreram de doenças coronarianas ao longo dos 11 anos de estudo eram mais pessimistas que os pacientes que sobreviveram. Entre os pacientes mais otimistas que a média, porém, não foi verificado nenhum efeito de proteção - a mortalidade entre eles seguiu os mesmos padrões das pessoas que estavam na média.

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Considerando apenas os pessimistas, os 25% que estão no topo da escala de pessimismo têm 2,2 vezes mais chance de morrer de doenças coronarianas que os 25% cujo pessimismo é mais moderado. A pesquisa foi realizada no Departamento de Psiquiatria do Hospital Central Päijät-Häme, em Lahti, situada a cerca de 100 quilômetros ao norte de Helsinque.

"O alto nível de pessimismo já havia sido ligado anteriormente a fatores que afetam a saúde cardíaca, como inflamações, mas eram raros os dados sobre a conexão entre o risco de morte por doenças coronarianas e o pessimismo e o otimismo como traços de personalidade", disse o autor principal do estudo, Mikko Pänkäläinen.

Os pacientes mais pessimistas apresentaram um risco maior de mortalidade por doenças coronarianas mesmo quando os dados foram ajustados estatisticamente para excluir a influência de fatores de risco psicológicos. Segundo Pänkäläinen, o estudo é o primeiro a examinar a mortalidade por doença coronariana em associação com o otimismo e o pessimismo como variáveis independentes.

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"Os níveis de pessimismo podem ser medidos bastante facilmente e o pessimismo nos servir como uma ferramenta muito útil para determinar os riscos de mortalidade por doenças coronarianas, assim como fazemos com o diabetes, a hipertensão e o tabagismo", disse Pänkäläinen.

Ele explica que os dados se basearam nas respostas dos pacientes ao Teste de Orientação de Vida, um questionário que inclui seis declarações, das quais três indicam o nível de otimismo, como, por exemplo: "em momentos de incerteza, eu normalmente espero o melhor". Outras três indicam os níveis de pessimismo, como "se algo pode dar errado para mim, é isso o que acontecerá". Nas respostas, os pacientes indicam o quanto essas declarações descrevem seu comportamento, em uma escala que vai de 0 a 4.

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