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Poeira de cometa sugere início turbulento para o Sistema Solar

Análise de amostras do cometa Wild 2 , as primeiras trazidas para a Terra, surpreende os cientistas

Por Carlos Orsi
Atualização:

Quando a cápsula disparada pela sonda Stardust chegou à Terra em janeiro de 2006, trazendo amostras recolhidas do cometa Wild 2, os cientistas do projeto esperavam partículas da nuvem primordial que existia antes mesmo que o Sol e os planetas terminassem de se formar: cometas, afinal, originaram-se longe o bastante do centro da nuvem para preservar, congelado, material que teria se fundido ou evaporado na vizinhança do Sol recém-nascido. O que os pesquisadores encontraram, no entanto, não foi nada disso. Astrônomos anunciam descoberta de planeta recém-nascido "Estamos descobrindo que Wild 2 contém partículas formadas muito perto do jovem Sol, que passaram por aquecimento - algumas chegaram a derreter - e que, de alguma forma, foram transportadas para as regiões geladas onde os cometas se formam", explica a pesquisadora Hope Ishii, principal autora de um artigo sobre a análise do material da Stardust, publicado na edição desta semana da revista Science. Segundo a cientista, o material poderia ter viajado entre a vizinhança do Sol e os limites do Sistema Solar por meio de turbulências na nuvem primitiva ou, até, de fluxos gerados por campos magnéticos. "Muitas teorias assim já haviam sido propostas antes mesmo do retorno das amostras da Stardust", afirma. De todas os grãos de poeira recolhidos do cometa e estudados até o momento, apenas um é de origem pré-solar, diz a cientista. Isso significa que Wild 2 é um cometa anômalo? "É uma boa pergunta, mas não temos a resposta ainda, porque trata-se do único núcleo de cometa que visitamos até agora", afirma Hope. A pesquisadora acredita que o resultado sugere que existe uma gradação suave entre os corpos do Sistema Solar que não são luas ou planetas, e não uma divisão rígida entre asteróides  (que habitam mais perto do Sol e têm mais materiais fundidos) a cometas. "Talvez Wild 2 seja um 'cometa interno', parente de um 'asteróide externo'", especula. O padrão usado para comparar o material coletado pela Stardust foram grãos vindos do espaço e coletados na estratosfera da Terra, as chamadas partículas de poeira interplanetária, recolhidas por aviões de grande altitude. "Essa poeira contém muitos grãos pré-solares, que são partículas de material produzido em outras estrelas antes de o Sol nascer, e também contém outros materiais únicos, que não aparecem em meteoritos". É possível, diz Hope, que essa poeira venha de cometas mais primitivos que o Wild 2. Uma questão levantada no artigo da Science é se a poeira coletada pela Stardust não poderia ter sido modificada pelo próprio processo de coleta, fundindo-se com o calor do choque contra a sonda. A pesquisadora, no entanto, não acredita que essa explicação dê conta da anomalia. "Há outras evidências que não apóiam a idéia de esse cometa ter um caráter primordial: há pequenas rochas que só se formavam muito perto do Sol jovem" nas amostras. Parte das amostras trazidas pela sonda Stardust está sendo classificada, online, por um grupo internacional de voluntários, em um projeto chamado Stardust@home. O objetivo é descobrir grãos de poeira interestelar, um material que cruza o Sistema Solar em alta velocidade, vindo do espaço distante. Essa poeira é muito menor e mais difícil de capturar que a poeira de cometa. Os dados do Stardust@home, diz Ishii, ainda não estão completos e, por isso, ainda não foram liberados para estudo por cientistas.

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