Política climática de Bush não é suficiente

Pesquisadores e ambientalistas criticam as medidas anunciadas pelo presidente norte americano, consideradas tímidas

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Por Agencia Estado
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A auto regulamentação do mercado ou ações voluntárias do empresariado, adotando tecnologias limpas para reduzir emissões de carbono, nos Estados Unidos, são considerados compromissos insuficientes diante da contribuição do país para o aquecimento global da atmosfera. Esta é a opinião de boa parte dos institutos independentes e entidades ambientalistas, que comentaram a política de mudanças climáticas da Casa Branca, anunciada nesta quinta feira (14/2) pelo presidente George W. Bush. Para o World Resources Institute (WRI), sediado em Washington, a nova política não vai reduzir as emissões, mas aumentá-las em 14%, nos próximos 10 anos. E os EUA não estão se comprometendo com uma meta "comparável ao progresso médio, que os países participantes do Protocolo de Kyoto devem atingir" até 2012, como diz a nota oficial do presidente, mas ficarão 33% acima dos limites estabelecidos no Protocolo de Kyoto, para o país, no período. "Eu gostaria que o plano do presidente Bush fosse um esforço sério para lidar com o aquecimento global. Mas não é. O plano só conseguirá confundir o povo americano, e nossos aliados de além-mar, com estatísticas enganosas", comentou Nancy Kete, diretora do programa Clima, Energia e Poluição, do WRI. O estabelecimento da medida de intensidade das emissões no lugar do total de emissões, é uma destas estatísticas enganosas. Intensidade das emissões é o total de gases liberados para a atmosfera dividido pelo Produto Interno Bruto (PIB). A expectativa de crescimento do PIB norte americano é da ordem de 3% ao ano, para os próximos 20 anos. A taxa de crescimento das emissões norte americanas é da ordem de 1,5% ao ano, se consideradas as tendências tradicionais (business-as-usual). Ou seja, só na conta doméstica, sem fazer nada, os EUA já estão reduzindo a intensidade das emissões. O mesmo cálculo, se aplicado a todos os países, levaria a distorções absurdas, colocando o Japão entre os países mais eficientes (porque produz muitos dólares com emissões controladas e devido à transferência de indústrias altamente consumidoras de energia para outros países) e a República Centro Africana como um dos piores vilões do clima (porque tem PIB baixíssimo, apesar de emitir quantidades insignificantes de carbono). Vale lembrar, que os EUA são responsáveis, sozinhos, pela emissão de quase um quarto do total mundial do carbono, atualmente liberado na atmosfera ou cerca de 6,726 bilhões de toneladas métricas de gás carbônico equivalente. E o Japão é o terceiro emissor mundial (atrás da Rússia), com algo em torno de 1,330 bilhão de toneladas métricas, o que ilustra o tamanho da distorção. Duas das propostas aparentemente positivas do novo plano de Bush - porque funcionaram para poluentes, no âmbito do Clean Air Act (lei antipoluição de 1990) - são as ações voluntárias e o incentivo à produção de tecnologias limpas, reguladas pelo mercado, para redução de gases do efeito estufa. Mas estas já estão acontecendo, independentemente da nova política, graças à liderança de empresas proativas. E, de acordo com o WRI, elas já resultaram na redução da intensidade das emissões em 17%, nos últimos 10 anos. "Nós precisamos é de um sistema mandatório e acurado, que pegue os retardatários e estabeleça uma base adequada de emissões", reitera Janet Ranganathan, também do WRI. Segundo ela, já existem padrões internacionalmente aceitos, como os estabelecidos no Protocolo de Gases do Efeito Estufa, que serviriam de base para um esquema de trocas de emissões. "É mais um anúncio desastrado de uma gestão marcada por um sério compromisso com a indústria dos combustíveis fósseis", lamenta Rachel Biderman Furriela, secretária executiva do Instituto Pró-Sustentabilidade (IPSUS), de São Paulo, para quem a política de redução gradual da intensidade de emissões de carbono, atrelada ao crescimento da economia, só reforça a ação unilateral dos EUA, de pequeno impacto para a contenção do problema. "Sua política continua em defesa de empregos norte-americanos, em detrimento da sustentabilidade da vida no Planeta". Para os ambientalistas do Greenpeace, a política anunciada por Bush foi "escrita, efetivamente, pela gigante petrolífera Esso". "Com este plano, as emissões de CO2 vão aumentar ainda mais do que as registradas nos últimos 5 anos", afirmou Marijane Lisboa, diretora executiva do Greenpeace Brasil. "Esta política não ajudará a estabilizar a longo prazo as concentrações de gases, que causam o efeito estufa".

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