Poluição do ar fica estável em 2002 na Região Metropolitana de São Paulo

Medidas de controle e melhorias tecnológicas, que permitiram melhorar a qualidade do ar em São Paulo nos anos 90, podem estar chegando ao limite da capacidade de compensar o aumento de veículos

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Por Agencia Estado
Atualização:

A qualidade do ar na Região Metropolitana de São Paulo deixou de apresentar melhoras significativas nos últimos três anos, apesar da continuidade dos sistemas de controle da Cetesb e da melhoria da tecnologia dos veículos novos. O motivo é o crescimento constante da frota e o aumento do número de motocicletas em circulação. A informação faz parte do Relatório de Qualidade do Ar em São Paulo em 2002, divulgado hoje pela Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb). O relatório mostra que são vários os tipos de poluentes responsáveis pela má qualidade do ar, cada um com um tipo de evolução e necessidade de controle diferente. Enquanto o maior problema nos meses de inverno (de junho a agosto) é o monóxido de carbono - por conta das inversões térmicas do período -, nos demais meses, o maior poluente é o ozônio, formado na atmosfera a partir de gases de combustão, com picos nos meses e horários de maior ensolação. Embora tenham características e sintomas diferentes, os dois poluentes fazem igualmente mal à saúde. Segundo os dados da Cetesb, o controle da poluição industrial, a partir dos anos 80, e a diminuição da emissão de monóxido de carbono (CO) dos automóveis - que passou de 33 gramas por quilômetro rodado (gCO/Km) para 0,43 gCO/Km atualmente -, resultaram em uma queda progressiva na poluição, mesmo com o aumento da frota de veículos. Com isso, desde 1997 não houve mais estado de atenção na Região Metropolitana para monóxido de carbono. Esse decréscimo, porém, parou de ocorrer em 2000, e desde então apresentou um pequeno crescimento. Um dos maiores problemas, segundo os técnicos, é o grande aumento da frota de motocicletas na Região Metropolitana, que passaram de 331 mil, em 1996, para 634 mil, em 2003. ?A maior parte das motos em circulação são pequenas, com motor de dois tempos, que misturam combustível e lubrificante no tanque. Isso faz com que emitam 25 vezes mais monóxido de carbono do que um carro novo?, explica Jesuíno Romano. Atualmente, as motos já correspondem a 13,8% das emissões de CO, enquanto os veículos a diesel correspondem a cerca de 25%, a gasolina a 44% e a álcool 12%. Vale lembrar que metade da frota circulante na Região Metropolitana (com 6 milhões de veículos leves e 450 mil a diesel) ainda não possui o catalisador. Em relação à fumaça preta, provocada sobretudo por veículos pesados, movidos a diesel, o controle da Cetesb ainda tem provocado queda de emissões e 2002 foi o primeiro ano em que o padrão de qualidade diário não foi ultrapassado nenhuma vez. Segundo Jesuíno Romano, gerente da Divisão de Tecnologia de Avaliação da Qualidade do Ar da Cetesb, em relação às partículas inaláveis, houve ganhos, mas os níveis ainda estão acima do padrão. ?Temos analisado também as partículas menores, as mais preocupantes por trazerem componentes químicos, e verificamos que, apesar da diminuição, ainda estamos acima dos padrões norte-americanos?, diz. Ozônio A maior preocupação da Cetesb, atualmente, é com o ozônio, o poluente que mais vezes ultrapassa o padrão na Região Metropolitana de São Paulo e que não apresenta indícios de diminuição. Em 2002, os limites ficaram acima do permitido durante 82 dias. O problema é que não é um poluente emitido diretamente pelas fontes. É formado na atmosfera através da reação entre compostos orgânicos voláteis (liberados através da evaporação de gasolina, solventes, refinarias, usinas de asfalto, fabricação de borracha e emissão de veículos) e óxido de nitrogênio (resultantes de qualquer queima, seja combustível de carro até fogão de cozinha), na presença da luz solar. ?O ozônio é um problema mundial, mas estamos concluindo um estudo, em parceria com a Universidade de São Paulo, que resultará em uma proposta à Agência Nacional do Petróleo (ANP) para uma mudança na composição da gasolina?, disse Rubens Lara, presidente da Cetesb. A proposta, que deve ser apresentada no próximo mês, consiste na diminuição das olefinas (grupo de compostos orgânicos voláteis que correspondem a 30% do combustíveis), para 20% no próximo ano e para 10% em 2007. A experiência, que vem apresentando sucesso na diminuição do ozônio em algumas cidades dos Estados Unidos, seria adotada inicialmente apenas na Região Metropolitana, já que aumenta o custo do combustível. A outra aposta da Cetesb para melhorar a qualidade do ar em São Paulo é a implantação do Programa de Inspeção Veicular (PIV), cuja previsão atual é para começar em 2005. Segundo Lara, o programa depende da regulamentação federal, que está sendo discutida por uma Comissão Interministerial. ?Acreditamos que deva ser uma inspeção única, envolvendo questões ambientais e de segurança, e obrigatória para veículos com mais de três anos.? A inspeção veicular é vista pela Cetesb como mais uma medida de controle em um quadro que mostra ainda episódios de ultrapassagens dos limites legais de poluição e não apresenta mais ganhos significativos em termos de emissão total.

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