Produtores de soja esperam apoio de Palocci para safra transgênica

O principal argumento é a lembrança de que mesmo que o plantio tenha sido ilegal, nem o Estado e nem o País podem abrir mão do US$ 1,74 bilhão que tamanha produção jogaria na economia

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Por Agencia Estado
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Os produtores de soja e o governo do Rio Grande do Sul acreditam que a força dos argumentos econômicos vai desmontar ameaças como proibição da venda e interdição das lavouras que rondam a safra predominantemente transgênica deste ano. Um dos aliados que pretendem conquistar nos próximos dias é o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. O principal argumento da pressão política é a lembrança de que, mesmo que o plantio tenha sido ilegal, nem o Estado e nem o País podem abrir mão de 8,5 milhões de toneladas do grão e do US$ 1,74 bilhão que tamanha produção jogaria na economia local, segundo as previsões para a safra deste ano. A partir dessa constatação, o assunto tende a migrar das discussões entre agricultores, produtores de sementes e ambientalistas para a mesa do ministro da Fazenda. ?Duvido que o ministro Palocci não queira comercializar a safra?, disse o secretário estadual da Agricultura, Odacir Klein, a um grupo de empresários reunidos pela Brasoja Corretora de Cereais Ltda. na semana passada. ?O ministro que mais vai contribuir para isso (a liberação da safra) é o Palocci?, prevê o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, que apresentou a reivindicação do setor aos deputados estaduais e federais gaúchos nesta segunda-feira. Sperotto vai a Brasília nesta terça-feira para defender a liberação da comercialização da safra transgênica. E tem reuniões agendadas com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e com técnicos do Ministério da Agricultura. Ao mesmo tempo em que agem na frente política, os produtores esperam que a liminar que impõe a necessidade de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o descarte na natureza de organismos geneticamente modificados (OGMs) seja cassada, o que aliviaria toda a tensão que a safra deste ano está provocando no agribusiness. O julgamento está suspenso desde fevereiro do ano passado, mas só será retomado daqui a 60 dias. O porcentual de OGMs sobre o total da soja plantada no Rio Grande do Sul gera controvérsias, mas nunca é pequeno. ?É voz corrente que superar 70%?, comenta Sperotto. O diretor da Brasoja, Antônio Sartori, afirma que apenas 5% da lavoura é rastreada, e acredita que os outros 95% sejam de sementes mistas. O secretário Klein reconhece que o plantio é ilegal, mas diz que foi feito no governo anterior e que o atual não pode se dar ao luxo de desperdiçar a safra. O presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, Carlos Alberto Fauth, admite que os produtores sabiam dos riscos que iriam correr. E lembra que nunca houve qualquer orientação de entidades como os sindicatos e a Farsul para que fosse plantada soja transgênica. ?Mas a redução de 30% a 40% nos custos da lavoura e a perspectiva de menos gastos com agrotóxicos falaram mais alto para muitos agricultores?, justifica. Em Passo Fundo e municípios vizinhos o temor dos produtores é maior. A Polícia Federal indiciou oito plantadores de soja num inquérito pedido pelo Ministério Público Federal e já colheu amostras do grão armazenado em 20 silos de empresas e cooperativas da região. O delegado Mário Vieira tem dito que se os laudos forem positivos poderá apreender estoques ou interditar lavouras. Muitos associados do sindicato tem manifestado a Fauth o temor de que, diante das notícias, as empresas e cooperativas deixem de comprar a soja deste ano. Sperotto destaca, ainda, que não há nem a perspectiva de guardar o produto até que a questão se decida na Justiça. O Estado tem não como armazenar a produção. Se não for vendida quando começar a colheita, daqui a 40 dias, a soja pode apodrecer no campo.

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