24 de setembro de 2011 | 17h48
O papa Leão 9 expulsou Lutero da Igreja Católica Romana em 1521 com um decreto vociferante tachando-o de "escravo de uma mente depravada" e qualificando seus seguidores de "seita herege e perniciosa".
Mas o sucessor de Leão 9 nos dias atuais, Bento 16, falou de maneira tão positiva sobre a profunda fé de Lutero durante uma visita ao antigo mosteiro do monge, em Erfurt, na sexta-feira, que o principal bispo protestante da Alemanha anunciou que Lutero havia sido efetivamente reabilitado.
"Lutero conheceu hoje uma reabilitação de fato por meio da apreciação de seu trabalho", anunciou na sexta-feira a jornalistas o bispo Nikolaus Schneider, líder da Igreja Evangélica na Alemanha, após conversar com o papa.
"Ouvimos isso muito claramente da boca do papa", disse ele. "O que virá em seguida agora é uma outra questão."
O porta-voz do Vaticano, reverendo Federico Lombardi, não foi na mesma linha, em declarações neste sábado. "Dizer aquilo seria um exagero", afirmou ele a jornalistas em Freiburg, última parada nos quatro dias de visita do papa à sua terra natal. "Isto é algo sobre ter fé profunda e eu acho que enfatiza os pontos em comum que temos em nosso amor de fé."
O que se passou 490 anos atrás está assumindo novo significado na Alemanha porque os protestantes do país se preparam para celebrar o 500o aniversário das 95 teses de Lutero, o manifesto dissidente de 1517 que terminou por conduzir à Reforma.
Os protestantes gostariam que os católicos dissessem que Lutero não era um herege, mas um grande teólogo cristão. "Seria bom se eles pudessem declará-lo um doutor da Igreja", disse à Reuters a bispa luterana de Erfurt, Ilse Junkermann.
Bento 16, que antes de assumir o papado era o cardeal Joseph Ratzinger, é o primeiro papa que leu Lutero, conhece bem os luteranos e aprecia o que vê como os aspectos positivos dele - fé profunda, foco em Jesus, ênfase na Bíblia e domínio da língua alemã.
Quando era cardeal, Bento 16 também teve papel importante no acordo católico-luterano de 1999, no qual se estabelecia que não mais discordavam sobre algumas questões teológicas complexas levantadas por Lutero e removiam anátemas lançados de ambas as partes na época da Reforma.
Schneider afirmou que terão de ser feitas algumas concessões por ambos os lados para se chegar a um acordo até 2017. Como exemplo, ele disse que sua igreja não iria apresentar Lutero como "um herói intocável que nunca fez nada de errado".
Não está claro se o Vaticano, que não gosta de oficialmente desfazer iniciativas de papas anteriores, pode ou deseja ir tão longe como a reabilitação de fato de Lutero.
Alguns luteranos dizem que não precisam de um selo de aprovação do Vaticano.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.