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Queimadas ainda atingem Pantanal, Norte e Nordeste

Estação seca favorece uso do fogo no Nordeste e extremo Norte. Temporada de queimadas e incêndios no Pantanal é uma das mais longas já registradas.

Por Agencia Estado
Atualização:

Dezembro costuma estar fora da temporada de queimadas, mas, em 2002, foi um mês quente, em diversos pontos do país. O maior número de focos concentrou-se no extremo Norte da Amazônia e do Nordeste, onde agora é época de seca e a expectativa ainda é de uso do fogo. Mas também foram detectadas altas concentrações de focos, fora de época e além da expectativa, na margem esquerda do Rio Teles Pires, na Serra dos Calabis, e a oeste de Aguapeí, ambos no Mato Grosso; entre Itapetinga, Itapevi e Canavieiras, no sul da Bahia, e na região de Guarapuava e Pinhão, no Paraná. E focos isolados ocorreram em praticamente todos os estados. As maiores preocupações, porém, voltam-se para o Pantanal, sobretudo no trecho localizado no Mato Grosso do Sul, onde se configura uma das mais longas temporadas de queimadas e incêndios dentre as registradas pelos satélites NOAA e processadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Embrapa Monitoramento por Satélite. O Pantanal está ardendo desde junho, quando os primeiros focos tomaram as margens do rio Paraguai, na altura de Corumbá, tendo se alastrado e intensificado durante julho, para tomar toda a região pantaneira - no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - em agosto e setembro, com altos índices até no planalto, a leste, sobretudo para o lado da Serra da Bodoquena. Em outubro, os focos voltaram a se concentrar numa imensa faixa ao longo do rio Paraguai, em toda a fronteira oeste do Mato Grosso do Sul, situação que se repetiu em novembro, apesar das primeiras chuvas. Entre junho e novembro de 2002, foram detectados pelo menos 9.900 focos de fogo no Pantanal (MS e MT), contra cerca de 6.800 registrados em igual período de 2001 e 3 mil em 2000. Durante todo o mês de dezembro, choveu apenas 2 mm na região, no início do mês e em muitas localidades já não chove há 30 dias. "Como naquela área, nesta época do ano, a evaporação e transpiração das plantas retiram do solo de 2 a 3 mm diários, por volta do dia 15 de dezembro, as reservas hídricas já haviam zerado e o déficit acumulado, desde então, é de 40 mm", explica Evaristo Eduardo de Miranda, da Embrapa Monitoramento por Satélite, responsável pelo balanço hídrico realizado pela instituição. Segundo ele, isso quer dizer que o risco de fogo está alto, mas pode ser minimizado com as chuvas de um único dia. "Vale lembrar, porém, que o clima do Pantanal é semi árido, mais próximo do chaco boliviano do que da floresta amazônica", acrescenta Miranda. "A água do Pantanal é de escorrimento superficial. O fato de acumular nas lagoas e depressões, às vezes cria a ilusão de que o clima é úmido, mas não é". Fogo criminoso De acordo com o mapa de riscos futuros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), feito com base em imagens de satélites meteorológicos e registros de chuvas e temperaturas, as margens do rio Paraguai, no extremo oeste do Mato Grosso do Sul, continuarão muito secas nos primeiros dias de janeiro, com índices de riscos de fogo variando entre alto e crítico. Toda a extensão da fronteira entre o Paraguai e a Bolívia encontra-se na mesma condição. Com o déficit hídrico, fica fácil do fogo se alastrar pelas pastagens e vegetação aberta de cordilheiras e margens de lagoas. Mas a principal suspeita é de fogo provocado. Fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) do Mato Grosso do Sul iniciaram, no dia 30 de dezembro, uma vistoria para verificar se os incêndios na região de Corumbá têm origem criminosa. A vistoria termina no próximo dia 5 e deve resultar também num mapa de áreas de risco, indicando para onde o fogo ainda pode se alastrar e onde a fiscalização deve ser intensificada. Alerta na Amazônia Na Amazônia, nos últimos dias de dezembro, o Inpe ainda apontava estado de alerta para as localidades de Pinheiro, no Maranhão, e Paragominas, no Pará, onde focos de fogo foram detectados em áreas florestais, além das áreas já desmatadas. Altas concentrações de focos estendem-se desde o Amazonas e Pará, nas várzeas do baixo rio Amazonas, até a Ilha de Marajó e sul do Amapá e todo o nordeste do Pará e centro-norte do Maranhão. As queimadas na região continuam crescendo, apesar dos esforços de fiscalização e substituição de tecnologias. Durante a típica temporada de fogo, entre junho e novembro, a soma dos focos registrados na Amazônia Legal foi de 146.215, o correspondente a 68% do total verificado em todo o país (214.879 focos). Em 2001, as queimadas da Amazônia Legal correspondiam a 66% do total brasileiro e, em 2000, cerca de 64%. Em dezembro, embora esparsos, alguns focos detectados no Amazonas e em Roraima chamam a atenção, sobretudo por se localizarem dentro de unidades de conservação ou terras indígenas e serem caracterizados como incêndios. Durante dezembro foram registrados 2 focos no Parque Nacional da Amazônia, no Amazonas, e 4 focos na Estação Ecológica de Caracaraí, em Roraima. Outros 41 focos arderam nas terras indígenas Raposa Serra do Sol (17), São Marcos (14), Manoá-Pium (4), Serra da Moça (4), Jacamim (1) e Barata Livramento (1), todas em Roraima. No Maranhão, a Reserva Biológica do Gurupi foi duramente atingida, com 90 focos de incêndio durante o mês, sendo que 31 focos foram registrados somente no dia 15. Outros 13 focos de incêndio somaram-se na reserva Biológica do Lago Piratuba, no Amapá, que já vem queimando há meses. Fora da Amazônia, os satélites também apontaram incêndios nos parques nacionais do Monte Pascoal, na Bahia (17 focos) e da Serra da Capivara, no Piauí (2 focos), e na Reserva Biológica do Una, na Bahia, área do mico leão de cara dourada (1 foco). Altas concentrações de queimadas dominam o sertão nordestino, numa extensa faixa do Maranhão e Piauí até a zona mais seca do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

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