James Webb, que dá nome ao telescópio, liderou a Nasa na corrida espacial e foi acusado de homofobia

Webb era um defensor ferrenho da ciência espacial; quando foi subsecretário do Estado, teve certa responsabilidade por um evento conhecido como Lavender Scare, que resultou na expurgação de funcionários gays e lésbicas do governo

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Por Dennis Overbye
Atualização:

Em 2002, Sean O’Keefe, então administrador da Nasa, anunciou que o próximo telescópio da agência teria o nome de James Webb, que liderara a Nasa durante a década de 1960, quando o órgão americano se preparava para pousar pessoas na Lua. Ele era um defensor ferrenho da ciência espacial.

Dirigente da Nasa entre 1961e 1968, Webb acreditava que aa agência deveria encontrar um equilíbrio entre o voo espacial humano e a ciência Foto: Nasa

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Alguns astrônomos ficaram desapontados com o fato de que o telescópio não teria o nome de um astrônomo. Outras pessoas fizeram objeções por motivos mais sérios: Webb teve certa responsabilidade por um evento durante o governo Truman conhecido como Lavender Scare, que resultou na expurgação de funcionários gays e lésbicas do Departamento de Estado. Na época, Webb era o subsecretário de Estado.

Essa questão ganhou destaque um ano atrás, quando quatro astrônomos – Lucianne Walkowicz, da JustSpace Alliance e do Adler Planetarium em Chicago, Chanda Prescod-Weinstein, da Universidade de New Hampshire, Brian Nord, do Fermi National Accelerator Laboratory e da Universidade de Chicago, e Sarah Tuttle, da Universidade de Washington – publicaram um artigo de opinião na Scientific American, com o título O telescópio espacial James Webb precisa de outro nome.

A Nasa disse que investigaria as alegações e publicaria um relatório. Posteriormente, em setembro, Bill Nelson, atual administrador da Nasa e ex-senador da Flórida, anunciou que não via necessidade de mudar o nome. Nenhum relatório foi divulgado, o que enfureceu os críticos.

À esquerda, imagem do telescópio Hubble orbitando a Terra; à direita, ilustração do James Webb Foto: NASA

Em março, após o lançamento do telescópio, a revista Nature informou, após pedidos fundamentados na Lei de Liberdade de Informação, que a Nasa havia levado as reivindicações a sério o suficiente para que Paul Hertz, então diretor de astrofísica da Nasa, tivesse escrito a astrônomos de fora da agência perguntando se ele deveria mudar o nome do telescópio. A resposta foi 'não', mas ele não conversou com nenhum astrônomo da comunidade LGBT+.

A revista também relatou registros do caso de Clifford Norton. Ele foi demitido da Nasa em 1963 – durante o mandato de Webb – por ser gay, e os materiais de arquivo fazem menção a “um costume na agência” de demitir pessoas por atividades homossexuais. Norton recorreu e ganhou um caso histórico contra tal discriminação em 1969.

Em novembro de 2021, o Comitê Consultivo de Astrofísica da Nasa pediu à agência um relatório mais completo. O’Keefe defendeu sua escolha em um e-mail. “Indiscutivelmente, se não fosse a determinação de James Webb de cumprir a visão mais audaciosa de seu tempo, nossa capacidade de exploração hoje seria totalmente diferente”, disse O’Keefe.

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Mas isso não foi suficiente para os críticos. “Se ele não é responsável pelas coisas ruins que aconteceram enquanto ele estava no comando, por que é responsável pelas coisas boas?”, Prescod-Weinstein disse. “Parece que estamos falando em dois pesos e duas medidas aqui, porque as pessoas atribuem a ele a responsabilidade pelas coisas de que gostam em seu legado e fingem que ele é responsável SÓ pelas coisas de que gostam", afirmou.  “Se vamos dar nomes de pessoas a nossos telescópios, devemos dar o nome de pessoas que nos inspiram a sermos melhores”, acrescentou Prescod-Weinstein. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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