PUBLICIDADE

Química do amor logo não terá mais segredos, diz cientista

O estudo dos hormônios e neurotransmissores que provocam a emoção avança rapidamente, diz Larry Young

Por Carlos Orsi
Atualização:

Dentro de poucos anos, casais em dificuldades poderão complementar a terapia conjugal com drogas, que atuariam sobre o amor e a indiferença da mesma forma que os antidepressivos e ansiolíticos de hoje afetam as emoções correspondentes. A expectativa é do cientista Larry Young, do Centro Nacional Yerkes de Pesquisas com Primatas da Universidade de Emory, EUA. Young é o autor do ensaio sobre a emoção do amor para a série "Being Human" (Sendo Humano), uma sequência de textos sobre a natureza humana escritos por especialistas de diversas áreas para a revista Nature. Cientistas identificam gene que aumenta chances de divórcio Em seu texto para a revista, Young cita diversos avanços recentes no estudo do afeto em mamíferos, como a descoberta dos efeitos oxitocina - um hormônio que, sabe-se, atua na formação de ligações emocionais fortes entre mãe e filhos e entre casais em várias espécies de animais, e que também existe nos seres humanos. O pesquisador especula que o laço emocional entre mulher e homem pode ter evoluído a partir da ligação entre mãe e filho. "Isso poderia explicar algumas características únicas da sexualidade humana. Por exemplo, o desejo sexual feminino pode ter-se separado da fertilidade". Cientistas também já sabem que um hormônio relacionado à oxitocina, a vasopressina, estimula, nos machos de uma espécie de roedor, uma ligação forte com a fêmea, o instinto paternal e a agressão contra rivais sexuais em potencial. Entre humanos, um estudo recente mostrou que homens com uma alteração no gene AVPR1A - que codifica um receptor de vasopressina - têm mais chances de ser solteiros ou, se casados, de passar por crises conjugais. "A possibilidade de que a variação genética possa influenciar a qualidade de nossos relacionamentos românticos tem implicações intrigantes", escreve Young. "Talvez testes genéticos de compatibilidade de parceiros em potencial venham, um dia, a se tornar disponíveis". Seu ensaio diz ainda que "os avanços recentes na biologia da união de pares significa que não vai demorar muito até que um pretendente inescrupuloso possa pôr uma 'poção do amor' em nossa bebida". Em entrevista ao estadao.com.br, no entanto, o pesquisador reconhece que uma "poção do amor" no estilo dos contos de fada ainda está bem longe. "Só estamos começando a entender toda a neuroquímica envolvida na criação do que chamamos de 'amor'. Mas podemos estar perto de usar uma abordagem farmacológica em conjunção com as terapias conjugais tradicionais", afirma. "Por exemplo, se a oxitocina realmente reforça a confiança, aumenta a capacidade de empatia, aumenta o olhar nos olhos, então é possível que essa molécula ajude. Mas isso ainda não foi testado em humanos. Acredito que o teste virá em breve, nos próximos anos". Young não vê motivos para temer que os estudos dos hormônios, genes e neurotransmissores que criam o amor venham a roubar da emoção seu caráter especial. "Compreender que o amor é uma propriedade emergente de uma série de eventos químicos que atuam em regiões específicas do cérebro não faz dele uma emoção menos poderosa. Ele vai continuar tão embriagante como quando nossa compreensão vinha da poesia. Continua com a mesma mágica". O cientista também não acredita que as descobertas recentes sobre os efeitos de hormônios e neurotransmissores no cérebro ponham em risco a noção de livre arbítrio. "O livre arbítrio, ou pensamento consciente, também pode guiar os neurotransmissores que afetam emoções como o amor. É de mão dupla. Por exemplo: se você vê alguém por quem se sente atraído e decide que quem quer ficar com essa pessoa (livre arbítrio) isso pode desencadear as reações químicas que podem levar ao amor". A liberdade, então, está ameaçada? "Eu não estou preocupado", afirma.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.