PUBLICIDADE

Recessão nos EUA pode brecar pesquisa com vacina anti-Aids

Por WENDELL ROELF
Atualização:

Uma recessão nos Estados Unidos poderia diminuir a verba disponível para o combate à Aids e prejudicar o desenvolvimento de uma vacina, afirmou na terça-feira uma importante autoridade de um grupo à frente desses esforços. Os EUA representam o centro da pesquisa sobre a vacina contra a doença. Seu governo contribuiu com 656 milhões de dólares (ou 69 por cento) das verbas voltadas à pesquisa em 2007, segundo dados divulgados em uma conferência sobre a vacina realizada na Cidade do Cabo (África do Sul). No entanto, a atual crise de crédito alimentou temores de que a maior economia do mundo embarque em um período de recessão, levando o governo norte-americano e seu setor privado a diminuir o investimento em vários programas, entre os quais os de pesquisa sobre a Aids. "Se houver um revés econômico, isso terá um impacto potencialmente negativo sobre o custeio de pesquisas em geral e de pesquisas com a vacina contra o HIV (vírus da Aids) em particular", afirmou à Reuters, durante o encontro, Alan Bernstein, diretor-executivo da Global HIV Vaccine Enterprise. A conferência -- que reúne muitos dos grandes nomes da pesquisa sobre o HIV -- ocorre depois de um ano durante o qual cientistas desistiram de planos sobre testar em um grande número de pessoas dois protótipos de vacina devido a dúvidas quanto à segurança dos produtos. Hoje em dia, segundo estimativas, o vírus da Aids contamina 33 milhões de pessoas no mundo todo e matou entre 23 milhões e 25 milhões desde que foi identificado, nos anos 80. Coquetéis de drogas anti-retrovirais conseguem controlar o vírus, mas não há uma cura para a doença. As duas vacinas com problema, uma desenvolvida pela gigante do setor farmacêutico Merck e outra por pesquisadores do governo norte-americano, pretendiam combater a Aids incentivando a ação de células T de forma a paralisar ou brecar o avanço da doença. Os primeiros resultados de um teste realizado pela Merck com seres humanos não foram encorajadores, e dados mostraram que a vacina poderia deixar algumas pessoas mais vulneráveis à contaminação pelo HIV -- o que paralisou os testes e levou alguns cientistas a repensarem o modelo. Apesar de decepcionantes para os cientistas, os resultados não provocaram uma paralisação total dos testes com vacinas. Duas vacinas desenvolvidas na África do Sul serão testadas no começo do próximo ano a fim de saber se são seguras para a fase de testes em seres humanos como parte de um esforço conjunto da África do Sul e de pesquisadores norte-americanos. A África do Sul possui a maior população de portadores do vírus da Aids no continente africano. Bernstein afirmou ser crucial que as grandes empresas farmacêuticas invistam mais na pesquisa com a vacina. "Eu parto do pressuposto de que não teremos uma vacina se o setor não se envolver profundamente nesse esforço", disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.