Refinaria da Petrobras contamina área do litoral

Se a água subterrânea tiver sido contaminada, os produtos poderão ter contribuído para poluir também o estuário de Santos. Um estudo da Cetesb divulgado no ano passado mostrou que o estuário já está bastante afetado por produtos tóxicos

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A área ocupada pela Refinaria Presidente Arthur Bernardes da Petrobras, em Cubatão, no litoral paulista, está contaminada por resíduos tóxicos e cancerígenos que podem ter sido enterrados no local durante anos, e de maneira inadequada, pela empresa. Há risco de as substâncias terem contaminado lençóis freáticos, rios, manguezais e o estuário de Santos - uma das áreas de pesca da Baixada Santista. A denúncia de contaminação foi apresentada em outubro ao Ministério Público Estadual (MPE) por dois ex-funcionários da empresa que dizem ter ajudado a enterrar os resíduos. "A empresa apresentou ao Ministério Público e à Cetesb resultados que indicam que existe contaminação não somente nos locais da denúncia, mas também em outras áreas da refinaria", disse a promotora do Meio Ambiente de Cubatão, Liliane Garcia Ferreira. A Petrobras informou que só vai comentar o caso quando o estudo, que ainda está em andamento, estiver concluído. Segundo a promotora, a Petrobras já vinha fazendo um estudo hidrogeoquímico e hidrogeológico antes mesmo da denúncia. Essa análise é capaz de verificar a contaminação do solo e da água subterrânea. Entre os produtos detectados pela análise estão, segundo a promotora, benzeno, tolueno, xileno e metais pesados (principalmente chumbo). Essa substâncias atingiram o solo por terem sido armazenadas irregularmente ou por vazamentos. "O estudo ainda é preliminar. Vamos pedir um aprofundamento e a complementação da análise para sabermos a extensão do dano", disse a promotora. "Só depois é que vamos ver quais medidas de recuperação do solo e do lençol freático." Segundo ela, se a água subterrânea tiver sido contaminada, os produtos poderão ter contribuído para poluir também o estuário de Santos. Um estudo da Cetesb divulgado no ano passado mostrou que o estuário já está bastante afetado por produtos tóxicos. Peixes e crustáceos também são atingidos pela contaminação. Os ex-funcionários identificaram os aterros irregulares - e também supostos pontos de vazamentos - num mapa da refinaria apresentado ao MPE. Há quatro pontos com suposta contaminação. Os Rios Perequê e Cubatão teriam sido atingidos. "O rios desembocam no estuário e acabam contaminando a alimentação das pessoas", diz conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), Carlos Bocuhy. O estuário é uma importante área de reprodução de peixes e já recebeu altas cargas de poluentes do pólo de Cubatão. Foi Bocuhy quem apresentou o caso à promotoria. A denúncia chegou a ele há cerca de três meses após descoberta da contaminação da Shell na Vila Carioca, em São Paulo. Temendo retaliações (o parente de um deles trabalha na refinaria), os ex-funcionários só aceitaram denunciar a história se seus nomes não fossem revelados. "Os resíduos eram enterrados manualmente o que também expôs os funcionários à contaminação", acrescenta Bocuhy. A borra de petróleo - em particular -, além de afetar o solo, se transforma em fonte permanente de poluição da atmosfera.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.