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Remediação do Aterro Mantovani levará dez anos

Com custo estimado em US$ 10 milhões, a recuperação ambiental do aterro depende de acerto entre as empresas que utilizaram o loca

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos casos mais conhecidos de contaminação industrial do Estado de São Paulo, o Aterro Mantovani já tem um plano de remediação, que deve custar cerca de US$ 10 milhões e levar dez anos para ser concluído. A proposta, porém, ainda depende de acordo entre as mais de 60 empresas que utilizaram o aterro para ser posta em prática, segundo Ernesto Moeri, presidente da CSD-Geoklock, empresa contratada, em 2001, para implantar medidas emergenciais de segurança e elaborar um diagnóstico ambiental para remediação da área. Moeri, que participou hoje, em São Paulo, do Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, explicou que, através do diagnóstico, foi constatada a existência de 320 mil toneladas de resíduos depositadas e não as 173 mil toneladas declaradas inicialmente. Fechado em 1987 pela Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental (Cetesb), o Aterro Mantovani, em Santo Antônio da Posse, interior de São Paulo, operou durante 13 anos. Neste período, recebeu resíduos dos mais diferentes tipos - como metais pesados e organoclorados -, inclusive vários para os quais não tinha autorização, como os materiais líquidos e pastosos, depositados em uma vala aberta, que transbordava em épocas de chuvas. Entre as empresas que utilizaram o Mantovani, estão Johnson&Johnson, Mercedes Benz, Basf, Texaco e Du Pont. As práticas inadequadas de disposição final de resíduos, adotadas pelos proprietários, propiciaram a contaminação do subsolo e águas subterrâneas. Em 2000, surgiram os primeiros indícios de uma migração de contaminantes para fora da área do aterro, contaminando a região, caracterizada por plantações de laranja e café. No entanto, os proprietários alegaram não ter recursos para resolver o problema. Em setembro de 2001, 48 empresas assinaram um acordo com o Ministério Público e a Cetesb, para financiar as medidas emergenciais e o diagnóstico. Segundo Moeri, foram realizadas obras para a contenção da pluma de poluição, através de barreira hidráulica, para a água subterrânea não sair para fora do aterro. Além disso foi implantado o monitoramento ambiental, a segregação das águas pluviais, a estabilização dos tadules (montanhas de resíduos), que estavam em grau avançado de erosão. Foi instalada, também uma estação para tratamento de águas contaminadas, que tratou mais de 3 mil metros cúbicos até o momento. ?Conseguimos evitar o risco de um desastre nos próximos anos, mas o projeto integral precisa de recursos?, disse o presidente da Geoklock. Moeri explica que a baixíssima permeabilidade do solo no local foi um fator de ?sorte? para que a contaminação não tivesse sido ainda maior. As medidas de remediação propostas incluem a complementação da barreira hidráulica de contenção e o remanejamento dos vários depósitos para a área central do aterro, onde ficariam confinados. Conforme o especialista, com todas as medidas implantadas, ainda será uma área de restrição de uso, mas não terá impacto na vizinhança. Sua viabilização, no entanto, depende de um acordo entre as empresas usuárias do aterro. Cerca de 40 delas (todas grandes empresas) concordam em financiar o projeto, desde que as outras 20 - responsáveis por 50% dos depósitos - também concordem em pagar. Essas empresas estão sendo acionadas pelo Ministério Público para que entrem no processo, mas estão tentando transferir a responsabilidade para seus clientes, como a Petrobrás. Assim que se chegar a um acordo, cada uma das empresas envolvidas deverá arcar com frações entre 0,5% a 7% das despesas, conforme o volume e a qualidade do material depositado. Problema mundial O Estado de São Paulo conta com 255 áreas contaminadas, segundo relação da Cetesb, mas esse é um problema mundial. Segundo Christoph Wender, responsável pela seção de Sites Contaminados, da Agência Ambiental da Suíça, o país tem cerca de 50 mil áreas poluídas, das quais cerca de 3 mil são consideradas contaminadas e com necessidade de remediação. Seguindo o mesmo princípio adotado no Brasil, do poluidor-pagador, a Suíça estima que os custos de investigação e remediação do problema devem totalizar US$ 3 bilhões. Atualmente, o país possui cerca de 200 áreas remediadas. Segundo Wender, ?não há soluções perfeitas, pois sempre se está agindo depois do estrago feito, mas deve-se seguir o princípio de que cada caso requer uma solução específica e que o aspecto social deve ser considerado?. Para ele, deve-se sempre tentar o maior ganho ambiental com o menor custo possível. O prazo, na Suíça, para a remediação da contaminação industrial é de 25 a 30 anos.

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