RS pode voltar a ter queimadas

Projeto que altera a Constituição Estadual pode trazer de volta prática proibida desde 1989 e que tem permitido a recuperação florestal do Estado

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul poderá votar amanhã (terça-feira) uma alteração na Constituição Estadual que permitirá a volta da prática de queimadas no Estado. A medida, aprovada em primeira votação no início do mês, é considerado um retrocesso pelos ambientalistas, já que o Rio Grande do Sul é o único Estado brasileiro onde o uso do fogo em práticas agropastoris ou florestais é proibido desde 1989. Para tentar barrar a Emenda Constitucional, o Núcleo Amigos da Terra-Brasil (NAT) está realizando uma campanha contra o projeto, que recebeu apoio do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Segundo Káthia Vasconcellos Monteiro, coordenadora executiva do NAT, será realizada uma manifestação de protesto amanhã, em frente à Assembléia. Cláudio Langone, secretário estadual do Meio Ambiente gaúcho, acredita que a grande mobilização causada pelo primeira votação possa reverter o processo e evitar sua aprovação. ?Criamos uma grande frente, que envolve desde o Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária até empresas do setor elétrico, para mostrar os problemas que podem advir da volta das queimadas, principalmente porque a redação do projeto permite que a queima seja feita em todo o Estado e também em florestas?, disse. A retomada das queimadas é uma reivindicação dos pecuaristas da região dos Campos dos Aparados da Serra e serve para queimar sobra de pastos, ou seja, a palha que o gado não consegue comer durante o verão. Para Langone, a aprovação do projeto poderá levar também à queima da capoeira e comprometer as florestas em estágio inicial de regeneração. ?O inventário florestal realizado no ano passado no Rio Grande do Sul revelou que o Estado está conseguindo regenerar suas florestas, o que poderá ficar comprometido com a volta do fogo?. As queimadas podem trazer problemas também para o programa de repovoamento das araucárias, lançado no início do mês pelo Governo do Estado, com a finalidade de retirar a araucária da lista de espécies ameaçadas de extinção. ?Foram distribuídos 2 milhões de pinhões ao agricultores, mas poderemos ter um grande retrocesso?, avalia. A coordenadora do NAT explica que o uso de queimadas é um costume cultural, do qual o pecuaristas não querem abrir mão. ?No entanto, há várias alternativas para o fogo, como a manutenção de um número maior de animais no verão, para que não sobre pasto no inverno?. Segundo Káthia, há proprietários que não usam o fogo há mais de 20 anos e outros que vêm abandonando a técnica desde 1993, quando se intensificou a fiscalização. ?Existe uma experiência sendo realizada em São José dos Ausentes, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que demonstra a viabilidade do manejo sem queima?, disse. Além disso, o governo do Estado, através do Programa Pró-Guaíba, tem disponibilizado recursos com baixo custo financeiro e até a fundo perdido, além de assistência técnica, para recuperar o solo e a vida da paisagem agrícola.

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