Solidão reforça crenças religiosas e sobrenaturais, diz estudo

Testes mostram que pessoas 'socialmente desconectadas' tendem a projetar qualidades humanas no ambiente

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Por Carlos Orsi
Atualização:

Pessoas solitárias têm uma tendência maior de atribuir características humanas e objetos inanimados ou animais irracionais e a acreditar em entidades sobrenaturais, como anjos, demônios ou Deus. A conclusão vem de três experimentos realizados por psicólogos americanos das universidades de Chicago e Harvard, e que estão descritos am artigo publicado na edição de fevereiro do periódico Psychological Science. "As pessoas são levadas a manter uma conexão social com outras, e as que não têm essa conexão... podem tentar compensar criando um senso de ligação humana com agentes não-humanos", diz o texto.   Nos três experimentos apresentados no artigo, voluntários foram classificados como socialmente "conectados" ou "desconectados", e submetidos a testes onde tinham de definir em que grau objetos ou animais pareciam possuir características como "livre arbítrio" ou "simpatia". Além disso, em dois dos estudos, participantes responderam a perguntas sobre suas crenças, classificando o quanto acreditavam em fantasmas, anjos, milagres, o demônio, Deus e maldições numa escala de zero (nenhuma crença) a 10 (muita crença). Na primeira experiência, os voluntários foram separados entre "conectados" e "desconectados" por meio de um questionário. Nos outros dois, a sensação de estar ligado ou não a outras pessoas foi induzida. Em um deles, por um falso perfil psicológico, que afirmava que a pessoa teria "tendência de se ver sozinha no futuro", ou que teria "tendência a ter relacionamentos recompensadores". No outro, pela exibição de clipes de filmes, como Náufrago e O Silêncio dos Inocentes. Todos os resultados, dizem os autores do trabalho, encabeçado por Nicholas Epley, da Universidade de Chicago, indicam uma tendência maior à humanização e à crença sobrenatural entre pessoas desconectadas. "Desconexão social pode não transformar um ateu num fundamentalista", reconhece o artigo, "mas pode dar um impulso à crença religiosa entre crentes e descrentes". O artigo sugere que "pessoas solitárias podem criar um objeto dotado de mente, um mascote ou um deus para povoar seus mundos" e que, dada a alternativa - o sofrimento causado pela solidão - essa pode ser uma estratégia terapêutica. "A correlação positiva entre a posse de um mascote e o bem-estar é bem documentada", diz o texto. Outra hipótese levantada na descrição do estudo é a de um efeito oposto - de pessoas muito bem integradas em seu meio social tenderem a ver como menos humanas as de fora desse meio. "Isto é mais uma hipótese que temos que um resultado experimental confirmado", explicou Epley, por e-mail. "Mas seria um resultado análogo ao do nosso artigo".

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