Sonda chega a Júpiter para revelar planeta

Nave Juno, da Nasa, entrará na madrugada desta terça no campo magnético e deve mostrar como se formou o Sistema Solar

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Por Fabio de Castro
Atualização:

SÃO PAULO - Após viajar pelo espaço por cinco anos, a nave Juno, da Nasa, chegará ao momento mais crítico de sua jornada à 0h18 desta terça-feira, 5, ao entrar na órbita de Júpiter. O principal objetivo da missão é descobrir o que há sob as espessas nuvens de gás que recobrem a atmosfera do planeta gigante, desvendando importantes informações sobre as origens do próprio Sistema Solar – e trazendo imagens inéditas.

Quando entrar na órbita de Júpiter, na madrugada desta terça-feira, a sonda Juno já terá percorrido cerca de 2,8 bilhões de quilômetros. A partir de então, ela viajará mais 560 milhões de quilômetros, por mais de um ano e meio, realizando 37 voltas completas em torno do planeta obtendo dados sobre a atmosfera e campo magnético. Em fevereiro de 2018, a nave mergulhará na atmosfera de Júpiter para ser destruída pela pressão.

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A Nasa já enviou diversas sondas a Júpiter, mas nenhuma chegou tão perto de sua superfície como a Juno está programada para fazer: a nave passará a menos de 5 mil quilômetros do topo das nuvens. Até agora, o recorde de aproximação é o da sonda Pioneer 11, lançada em 1974, que realizou um sobrevoo a 43 mil quilômetros da superfície joviana. Com isso, a Juno será capaz de observar o que jamais foi visto por ninguém.

“Júpiter tem um campo magnético extremamente intenso e isso forma uma espécie de bolha que impede que obtenhamos informações de sua atmosfera utilizando ondas de rádio ou microondas. É preciso inserir a nave no campo magnético, porque assim tudo o que estiver lá dentro – incluindo o próprio planeta – será revelado”, disse o astrônomo Cássio Barbosa, do Centro Universitário FEI.

O astrônomo explicou que a entrada na órbita do planeta gigante é o momento crítico da missão: caso a nave falhe em sua inserção, não haverá resultado científico algum. “Todos os instrumentos da nave ficam desligados. Se algo desse errado, seria uma perda imensa.”

Hidrogênio. Segundo Barbosa, o planeta, que tem uma massa 300 vezes maior que a da Terra, gira rapidamente, completando uma volta em torno de si mesmo a cada 10 horas, e funciona como um dínamo. Acredita-se também que nas profundezas de sua atmosfera, sob pressões imensas, o hidrogênio é comprimido até se tornar um líquido conhecido como hidrogênio metálico, que age como condutor elétrico. Tudo isso produz o fortíssimo campo magnético.

Os cientistas acreditam que Júpiter é o planeta mais antigo do Sistema Solar, pois, assim como o Sol, é formado essencialmente por hidrogênio e hélio. Isso leva a crer que o planeta gigante se formou cedo, capturando a maior parte da matéria que não foi incorporada ao Sol recém-formado. Mas não se sabe como isso aconteceu.

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“Com a Juno, os cientistas poderão usar micro-ondas para estimar a quantidade de vapor de água existente na atmosfera de Júpiter. Esse número será usado como parâmetro para saber se o planeta nasceu no lugar onde está hoje, ou se teve sua origem em outro ponto do Sistema Solar e migrou mais tarde”, afirmou Barbosa.

Júpiter é peça-chave na obtenção de informações sobre as origens do Sistema Solar Foto: J. Nichols/Nasa e Agência Espacial Europeia

Caso Júpiter tenha mais água do que o esperado para sua posição, significa que ele estava mais longe do Sol na formação e depois se aproximou. Caso tenha menos água que o previsto, provavelmente se formou próximo do Sol e depois se afastou. “As informações que a nave trará sobre essa questão são fundamentais para descobrir qual é a teoria certa para a formação do Sistema Solar”, disse.

Júpiter emite grandes quantidades de radiação infravermelha, de rádio e de microondas. Mas só as frequências de microondas podem ser detectadas pelos equipamentos da Juno através das espessas camadas de nuvens sobre a superfície do planeta. Além dos radiômetros de microondas, no entanto, a nave também é equipada com câmeras que farão imagens inéditas do planeta.

"A missão descobrirá se o planeta gasoso tem um núcleo sólido, mapeará seu campo magnético e medirá a quantidade de água e amônia em sua atmosfera profunda. Originalmente a nave não levaria nenhuma câmera digital, porque sua instrumentação já era suficiente para fazer as medições necessárias. Mas a pressão do público foi tão grande que a Nasa incluiu uma câmera", afirmou Barbosa. 

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Missão sem igual. A sonda Juno, de quatro toneladas, fez a maior parte de sua viagem na velocidade impressionante de 265 mil quilômetros por hora, antes de reduzir a marcha para penetrar na órbita de Júpiter. Para suportar a violenta carga de radiações emitidas pelo planeta - e os ventos que chegam a 500 quilômetros por hora em sua atmosfera -,a sonda é equipada com um escudo de titânio que protegerá seus avançados instrumentos científicos. 

De acordo com Paulo Bretones, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenador da Comissão de Ensino e Divulgação da Sociedade Astronômica Brasileira, a nave é impulsionada por energia solar, absorvida por três painéis de cerca de 10 metros cada um. 

Segundo ele, como Júpiter está cinco vezes mais longe do Sol que a Terra, recebe 25 vezes menos energia solar. Por isso os painéis precisam ser grandes e muito eficientes. Outro fator que ajuda na economia de energia da nave é sua órbita polar: ela gira em torno dos polos de Júpiter, sem passar por sua sombra.

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"As 18.698 células solares de seus paineis poderiam gerar na Terra 14 quilowatts de eletricidade. Mas em Júpiter, como a luz do Sol é muito mais fraca, os painéis solares - os melhores já desenvolvidos - só poderão gerar 500 watts. Trata-se do engenho espacial movido a energia solar que conseguiu chegar mais longe", disse Bretones.

Todas as missões anteriores a Júpiter, segundo Bretones, foram realizadas por sondas que utilizaram energia nuclear para o funcionamento dos seus instrumentos: a Pioneer 10, em 1973, a Pioneer 11, em 1974, a Voyager 1 e 2, em 1979, a Ulysses, em 1992, a Cassini em 2000 e a Galileo de 1995 a 2003. 

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A missão teve custo total de US$ 1,1 bilhão de dólares. "Isso ainda representa pouco tendo em vista o que os Estados Unidos gastam com o complexo industrial militar, que é da ordem de US$ 300 bilhões por ano", afirmou Bretones.

Segundo o astrônomo, ao observar o que existe sob o manto gasoso de nuvens que recobre Júpiter, a missão Juno vai revelar mistérios que persistem desde a primeira vez em que o planeta foi observado, por Galileu Galilei, no século 17.

"Sendo assim, faz muito sentido o nome de Juno, que vem da mitologia grega e romana. Segundo a lenda, o rei dos deuses criou um véu de nuvens em torno de si mesmo para esconder suas infidelidades, mas a ciumenta deusa Juno conseguiu enxergar através das nuvens e revelar a natureza de Júpiter", explicou Bretones.